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Abertura do carnaval não-oficial no Rio reúne foliões no Centro

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O carnaval de rua no Rio de Janeiro começou mais cedo neste ano. Foliões cariocas se reúnem na tarde deste domingo na Rua do Mercado, no Centro da cidade, para aproveitar a Bloqueata do Desliga, festa organizada nas redes sociais em protesto ao carnaval oficial, organizado pela prefeitura. Só no Facebook, cerca de 10 mil pessoas tinham confirmado presença na folia até hoje. 

Mas a festa pegou as autoridades de surpresa. Apesar de a informação ter rodado na internet durante toda esta semana, as autoridades disseram desconhecer o acontecimento da festa. O trânsito nos arredores acabou bloqueado pelos próprios foliões e não há sinais de banheiros químicos. 

A Guarda Municipal afirmou não estar ciente da realização do evento e enviou cerca de 50 agentes ao local, mas não sabe fazer uma estimativa de quantas pessoas participam dos blocos. O efetivo de agentes no local pode ser ampliado de acordo com a quantidade de foliões. Havia algumas viaturas da Polícia Militar, que acompanhavam de longe a festa. 

Mesmo assim, a atmosfera é de diversão na Rua do Mercado, onde muitos cariocas curtem a folia animados e fantasiados. Muitas pessoas chegam ao local em grandes grupos e dizem ficar sabendo do evento pelo Facebook. O analista de sistemas Henrique Monteiro, de 27 anos, vestia uma camisa social com gravata borboleta e carregava uma bandeja com latas de cervejas. "Eu sou o garçon indisciplinado. Não sirvo, eu consumo", brincou Henrique, que disse prestar uma homenagem a todos os garçons. 

O casal Carlos e Carolina também estava a caráter, ela de nega maluca, ele de malandro. "Para mim, isso aqui é o carnaval. É o início da festa. Preciso vir com a fantasia e curtir essa alegria", contou Carlos.

Blocos pequenos

O percussionista do bloco Cordão do Boi Tolo, Luiz Otávio, participou de todas as edições do evento, que em 2012 chega ao terceiro ano de vida. "A ideia do evento é ser contra o carnaval super regulamentado da prefeitura. Há uma série de restrições que os blocos pequenos não conseguem cumprir e acabam perdendo espaço", afirmou. 

Segundo ele, o evento não tem caráter político e busca independência das imposições da prefeitura. Mais de 20 blocos confirmaram presença no evento. Luiz Otávio disse que não existe uma organização central para essa abertura informal do carnaval.

O integrante do Cordão do Boi Tolo ainda afirmou que a prefeitura tem que tratar com proporcionalidade os diversos blocos. "A prefeitura cobra uma série de exigências que não somos capazes de garantir. Em sua maioria, nesse evento, os blocos são pequenos e só querem levar diversão às pessoas. Não pode ter excesso de regra", disse. "Não dá para tratar igual um bloco pequeno de bar e o show da Madonna, e é isso que a prefeitura faz", finalizou.

O desfile dos blocos na Rua do Mercado não é autorizado pela RioTur, que não participou da organização do evento. Segundo a assessoria de comunicação da entidade, a programação oficial dos blocos de rua será divulgada na terça-feira (10). 

Ambulantes aproveitam momento para protestar

O fato de o evento não ser regulamentado pelas autoridades competentes não tirou o fôlego dos vendedores ambulantes. Diversas barracas com bebidas, comidas, balas e cigarros se juntavam à alegria dos foliões. O ambulante Manuel Messias, que trabalha em todos os blocos do Rio há mais de 15 anos, chegou ao local ainda de madrugada para preparar as bebidas que venderia. 

"Agora (com a temporada de blocos de rua) eu e minha mulher vamos trabalhar direto até o carnaval", afirmou. "Eu continuo esperando o cadastro da prefeitura. Mas hoje não teve nada, a gente veio aqui porque as pessoas também querem beber e preciso trabalhar".

Segundo Manuel, o lucro dos vendedores ambulantes cresce muito nessa época do ano. Ele revelou conseguir juntar, em média, oito mil reais até o fim do carnaval. Contudo, Manuel classifica o trabalho como duro, pois muitas vezes é necessário dormir na rua para conseguir acompanhar o ritmo dos blocos.  

Vendedor ambulante há 30 anos, Edinho criticou as medidas da prefeitura. De acordo com ele, os ambulantes são tratados como criminosos. "Eles estão agindo errado com o nosso trabalho. A segurança das pessoas que estão nos blocos eles não garantem, mas tratam a gente como bandido. É uma covardia", afirmou. 

Apuração: Luciano Pádua