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Por que não nomear os exoplanetas?

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Wladimir Lyra , Jornal do Brasil

RIO - Desde a descoberta do primeiro planeta fora do Sistema Solar, ao redor da estrela 51 Pegasi, mais de 400 outros planetas foram descobertos. Estes planetas não tem nomes próprios associados, e são conhecidos apenas pela designação oficial adotada pela União Astronômica Internacional (IAU/UAI), órgão máximo da Astronomia mundial.

Neste sistema, o planeta recebe o nome da estrela, acompanhado por uma letra minúscula que representa a ordem da descoberta. O primeiro planeta descoberto em Alfa Ceti, por exemplo, será chamado Alfa Ceti b, o segundo Alfa Ceti c.

O problema é que acabamos com vários planetas com nomes de catálogo.

Recentemente se descobriu um planeta nas vizinhanças de um centro galáctico, que recebeu o nome MOA-2008-BLG-310-L b. Mesmo com casos embaraçosos como esse, a IAU se recusa a considerar nomes próprios para os planetas.

A razão oficial é que se espera que a ocorrência de planetas seja muito comum. Seguindo o ritmo atual, em poucos anos teremos milhares de planetas, e um sistema de nomes individuais seria tão impraticável como nomear as estrelas.

De fato, nomear todas as estrelas é impraticável. Ainda assim, algumas estrelas têm nomes próprios. Qualquer um que passou uma noite sob um céu claro conhece alguns dos benefícios disso.

Uma outra razão, talvez a principal, é o chamado Princípio Copernicano.

Nosso lugar no Universo não é de modo algum especial, então não há razão para se dar nome apenas aos planetas no Sistema Solar, como Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Se valesse o critério usado para os exoplanetas, os nomes seriam outros: Sol a (Mercúrio), Sol b (Vênus), Terra e Sol d (Marte). O que implicaria que a Terra é especial de alguma forma.

Em um ensaio recente, disponível na Web, eu sugiro um sistema para nomear os planetas extrassolares, baseado no mito da constelação onde está localizada a estrela que o planeta orbita. Assim, seriam nomes do mito de Andrômeda a planetas na constelação de Andrômeda, nomes do mito de Hércules para planetas na constelação de Hércules. É tão simples quanto parece. Então CoRoT-7 b viraria Ícaro, WASP-12 b passaria a se chamar Vulcano, HD 195019 b receberia o nome de Apolo, e, finalmente, HD 65216 b seria conhecido como Jasão.

Nomes de outras mitologias que não apenas a greco-romana também podem utilizados. A lista completa pode ser vista em www.mpia.de/homes/lyra/planet_naming.html

A lista, publicada recentemente, já ganhou adeptos internacionais, também descontentes com os nomes oficiais que mais parecem placas de carro. Os nomes não são oficialmente reconhecidos e tampouco precisam ser. Em sua vasta maioria, os planetas extrassolares jamais serão conhecidos por quaisquer outros senão astrônomos, como é o caso de estrelas e galáxias.

O sistema de placas de carro continuará sendo usado em publicações especializadas. Ainda assim, só há ganhos em conceber um sistema de nomes próprios para o público em geral.

Haveria tanto interesse em buracos negros e no Big Bang se eles fossem chamados apenas de singularidades espaço-temporais e evento de condição de contorno cosmólogica ?

Wladimir Lyra é astrônomo brasileiro

radicado na Europa.