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Comitê Social teme que Pan não deixe legado significativo para o Rio

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Agência Brasil

RIO - Os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, que começaram a ser disputados ontem, 12 de julho, podem não gerar impactos sociais significativos para a população local. O alerta é do Comitê Social do Pan, criado há dois anos para acompanhar a aplicação dos recursos, principalmente da prefeitura do Rio na área social.

Os membros do comitê, que reúne representantes de diversas entidades da sociedade civil, temem que, concluídas as competições, todo o volume de verbas públicas empregado na realização do evento não represente melhora da qualidade de vida do carioca.

De acordo com dados do Ministério do Esporte, estão sendo investidos cerca de R$ 3,5 bilhões em recursos públicos, voltados principalmente para instalações esportivas e acomodações, segurança pública, turismo, tecnologia e comunicação. A prefeitura do Rio estima que, até o final da competição, sejam gastos R$ 1,2 bilhão somente em recursos municipais. O coordenador do comitê, economista Bruno Lopes, acredita que boa parte das ações vai durar apenas o período da realização dos jogos, como a geração de postos de trabalho em função das obras de instalações esportivas e da Vila Pan-Americana.

- São projetos focais. Houve geração de trabalho, não de emprego. Depois que os jogos acabarem, esses trabalhadores voltam para o estágio inicial, o desemprego, afirmou o economista.

Lopes disse que a Agenda Social (Decreto Municipal nº 24227, de 20 de maio de 2004), contendo 43 metas sociais a serem alcançadas até este ano, está sendo descumprida pela prefeitura. Segundo ele, o documento determina que em 2007 haja 120 mil crianças matriculadas na pré-escola, por exemplo.

Entretanto, destacou o economista, desde 2005, quando havia 99 mil matriculados, o número de estudantes na pré-escola teve um recuo de 5%, o que significaria 4.773 estudantes a menos, de acordo com dados do Instituto Pereira Passos.

- Se essas metas sociais fossem atendidas, deixariam um legado social enorme. Só que temos percebido que elas não estão saindo do papel, disse.

O coordenador do Comitê Social do Pan também criticou a proporção dos recursos aplicados nos equipamentos esportivos em relação aos investimentos em áreas como saúde e educação.

Segundo Lopes, enquanto foram gastos cerca de R$ 400 milhões na construção do Estádio Olímpico João Havelange, os investimentos voltados para aquelas duas áreas, incluindo reforma e construção de creches, escolas e hospitais e compra de ambulâncias, durante os anos de 2004 e 2005, não passaram de R$ 150 milhões. Ele considerou o valor irrisório , quando comparado às necessidades do sistema.

O prefeito do Rio, César Maia, rebateu as críticas afirmando que o maior legado que os Jogos Pan-Americanos vão deixar para a cidade é a geração de empregos sustentáveis. Maia disse que o aumento da capacidade do município de sediar grandes eventos, sejam eles esportivos ou não, vai permitir a ampliação do desenvolvimento econômico.

- A visibilidade que o Rio ganha produz novas atrações para o turismo. Isso, para mim, tem um nome só: emprego, e essa é a política social fundamental, disse o prefeito.

Questionado sobre o cumprimento do decreto municipal que instituiu a Agenda Social, César Maia explicou que o foco da prefeitura, a partir do Pan, não é promover políticas de ação social compensatórias. De acordo com o prefeito, isso já é prática contínua através dos projetos sociais municipais.

- No Pan-Americano, nosso foco é o esporte como atividade econômica, capaz de gerar desenvolvimento econômico e emprego. Até agora, já foram gerados mais de cem mil [empregos] e eu acredito que eles serão sustentáveis. Daqui para a frente vem o crescimento, em função da atratividade do turismo, do Rio como grande sede do evento, afirmou.