O produtor rural é mal representado, sabemos. Hei, devagar, estou falando do produtor rural, aquele que produz, não o que vive de fazer negócios. Falo de quem se anima a plantar mesmo repetidamente correndo riscos de perda por razões climáticas, por variações de preços absurdos de seu produto na safra. Falo daquele que vende para poucas indústrias de processamento, daquele que vê seu produto desabar de preço quando chove pouco ou quando chove muito – perdas e dificuldades de colheita ou transporte.
Falo de quem produz com transgênicos e é chamado de assassino ou de quem aduba e é chamado de orgânico lá na cidade e de anti-higiênico adubador com esterco e camas animais por quem está por perto... Falo de quem produz, sofre e de novo, planta e...sofre. Falo de quem é acusado de tratar mal os animais que cria e recria enquanto vê pela TV 5 vezes por dia o educado trato dos marginais e policiais nas grandes cidades. Falo de quem produz e precisa de sementes, fertilizantes, e se é pequeno, só pagando à vista. Falo de milhões de pessoas que nos bancos (que têm o nosso dinheiro do Tesouro para fazer girar a próxima safra) não são mais atendidos por gente...precisam falar com máquinas. Falo de produtor que precisa do apoio do filho de 14 anos em algumas fainas mas teme ser acusado de se utilizar de trabalho infantil. Falo de quem precisa da visita de uma emater ou parecida entidade que no momento não dá...está sem gasolina. Não falo de negócios, de agronegócios.
Não falo de tradings multinacionais que têm redes de satélites e coletam informações articuladas sobre estoques, variedades, preços e pragas. Não falo de bancos que ganham dinheiro com insumos, processadores, redes. Falo de supermercados, atacadões. Falo de produtores que não são os que dominam os boxes de centros de abastecimento, atravessadores especializados. Falo de quem produz um pouco de café, um pedaço de cana, um pomar de mangas, uma grota de bananas, um usucapião de coqueiros, um sem-trator que produz mamona, um laranjeiro que ainda insiste em manter seus 2 hectares e não arrendar prá cana.
Falo de um produtor de leite que formou um médico e uma dentista ordenhando 20 vacas e que recebe (nem sempre) 1 real e 15 centavos por kg produzido e sabe que quem produz mais de 5 mil kg está recebendo o dobro. Falo do produtor que é pequeno e médio ou grande mas que leva a culpa da última lei que afrouxa regras para aplicação de agroquímicos como se produtores tivessem maior capacidade de lobby que as monsantos, syngentas, bayers, da vida globalizada. Falo do produtor que tem culpa: ele produz e tenta vender como pode e muitas vezes quem compra dele só paga como quer. Falo do produtor familiar sim, inclusive aquele que tem na sua fazenda 3 ou 10 famílias que ali trabalham e quando perdem a vaga se tornam sem teto e sem alternativa. Falo de milhões de trabalhadores que estão na roça, com milhões de empregadores que estão na RAÇA. Não falo de agribussiness, essa denominação chic e idiota que esconde a massa humana e o esforço desumano em todas as regiões e municípios desse Brasil. Não falo de indústrias nem de bancos.
Falo de produtores, que em geral não têm capital de giro e não compram “nucartão“. Brasileiros que produzem, essa é a turma para os quais peço atenção. Com os arranjos eleitorais nessas duas próximas semanas fico sabendo de dificuldades de bons candidatos (sabem a diferença entre mula e cavalo) que estão enfrentando para fazer campanha ou mesmo fortalecer sua pré candidatura. Os partidos...ora os partidos. Que bons partidos, não sectários, você conhece? Quais expulsaram seus ladrões de estimação? É urgente desde já ter bons candidatos... Sugiro assim: procure logo um candidato que entenda o mundo dos produtores rurais, não importa o partido, vamos trabalhar! Temos poucos dias pela frente para que após as eleições estejam eleitos uns poucos políticos que sejam da produção e não dessa pompesca enganação que é o “agronegócio“, essa armação de quem lucra enquanto você produz. Produtor de verdade também vota.