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Polícia Federal: glamour e atraso

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Imagens de carros importados pretos com letras douradas com policiais federais uniformizados no mesmo padrão, cumprindo suas missões, seja na Lava Jato, seja na Calicute ou outra operação com nome pitoresco tornaram-se ícone no país. Isso é fato. 

Por trás do glamour das missões rocambolescas, porém, o que não se mostra é a rotina de ódio, assédio moral e falta de espírito de corpo que atinge a esmagadora maioria dos policiais federais de todo o Brasil. Sob o manto de uma das instituições mais respeitadas, esconde-se outra realidade: o atraso, o anacronismo e a hostilidade. Não por acaso, um terço da corporação sofre de depressão e outros problemas psiquiátricos. Um ambiente emocionalmente insalubre. 

Sonho de muitos, a carreira policial federal, ao contrário do que o imaginário midiático induz a acreditar, agoniza. De um lado, agentes, escrivães e papiloscopistas lutando por uma carreira única, que insira a Polícia Federal brasileira no rol das polícias investigativas do mundo desenvolvido. De outro, delegados lutando de forma encarniçada para serem chamados de “Excelência” e para manterem o status quo como carreira jurídica que não existe em nenhuma outra polícia do mundo. Delegado de Polícia Judiciária dentro do Poder Executivo é uma aberração bem à brasileira. 

As pirotecnias das operações com nomes chamativos envelopam os erros de investigação que chegam a nível preocupante. Um número superlativo de pessoas teve sua vida destruída por prisões preventivas ou temporárias sem nenhuma base legal. O caso mais notável foi a prisão, absolutamente sem provas, do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luís Carlos Cancellier de Olivo, que o levou ao suicídio dias após sua soltura. 

O número de ações por dano moral, após prisões equivocadas, só aumenta e ninguém dentro da instituição é responsabilizado. No caso do reitor, a delegada que coordenou a investigação foi promovida a Superintendente Regional em Sergipe, após o erro crasso. Em outro caso que virou referência dentro da própria PF, um agente foi preso, levado para um presídio de segurança máxima, deixado lá por três semanas. Solto por habeas corpus, teve sua ação trancada por ausência de justa causa e, passados quase dois anos, jamais foi ouvido por alguma autoridade da Polícia Federal, do Ministério Público ou mesmo do Judiciário. 

O fato é que um policial de campo, seja um agente, escrivão ou papiloscopista leva pouco tempo entre a alegria de ser aprovado em um dos concursos públicos mais difíceis e concorridos do país e a frustração de perceber que grande parte do glamour dessa polícia tão importante para a República não passa de mero marketing governamental.

* Agente da Polícia Federal e vereador de Niterói pelo PPS