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Urgências para o Brasil sustentável

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Pelo menos três pontos são cruciais e merecem nossa atenção e o foco dos nossos debates atuais, especialmente no Brasil. O primeiro deles é a questão do clima e de que forma suas mudanças nos afetam diretamente. É consenso que, para cumprir as metas de redução de 2 graus centígrados na temperatura do planeta, conforme o Acordo de Paris, teremos que rever o uso dos atuais combustíveis, promovendo uma transição até a adoção de energias renováveis. Adotar mecanismos que coloquem um preço sobre o impacto ambiental desses combustíveis pode ser uma alternativa para financiar a nova energia renovável.

Nas últimas semanas, a paralisação dos caminhoneiros evidenciou nossa total dependência em relação aos combustíveis fósseis e às rodovias, e como ainda temos uma longa trajetória para reverter isso, pensando, por exemplo, em vincular novas concessões à expansão de ferrovias ou adoção de combustíveis menos poluentes. A paralisação deixou ainda mais evidente a relação direta do diesel com as emissões de gases do efeito estufa: informações de qualidade do ar da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo apontaram para a queda de 50% da poluição na capital paulista durante a greve. Diante dessa realidade, criar um mercado de carbono no Brasil é urgente. 

O segundo ponto, que já vem sendo absorvido pelas grandes representantes do setor industrial, mas precisa ser multiplicado Brasil afora, é a urgência de maior atenção na captação de água, uso eficiente e, principalmente, adoção de técnicas de reuso. Os desperdícios e a impressão de haver recursos fartos e inacabáveis já não fazem parte do nosso cenário atual. Nossas preocupações sobre a real finitude da água são realidade inquestionável. Incluir no cálculo dos investimentos os riscos da escassez e os custos para tratamento da água no processo industrial, bem como formas de reutilização, são processos já absorvidos por parte da indústria, ainda que o Brasil não tenha uma legislação nacional para regulamentar essa prática. Providenciar uma lei nesse sentido é outra de nossas urgências, tanto quanto promover um choque de saneamento básico no país. Já não é cabível trabalharmos com tecnologias de reuso do século 21 (que devem ser ampliadas) e, em outra frente, estarmos estacionados no século 19 no que diz respeito a tratamento de esgotos. 

Na mesma linha, a terceira das urgências é a nossa relação com a economia circular e não somente em relação à água. O consumo consciente, o uso eficiente dos recursos naturais, a reciclagem de todos os materiais, a reutilização de produtos, seja nas indústrias ou na vida individual devem ditar as regras de um país que mira a sustentabilidade. Esse conceito já deveria ter deixado de ser urgente para ser presente e constante. Temos visto em muitos casos a substituição da propriedade pelos serviços, como os carros por exemplo, que nos aponta ser uma tendência irreversível e a ser expandida para os mais diversos setores. 

Essas três urgências fazem parte de documento mais amplo que o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) está preparando para levar aos presidenciáveis como pontos fundamentais a serem enxergados para preparar o país para um mundo sustentável. Um mundo que não é só de futuro, mas que se faz urgente no presente. 

* Presidente do CEBDS