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Aposta de ganhos na correção

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Economistas que estudam a Eletrobras e já participaram do seu Conselho de Administração, como Manuel Jeremias, consideram que a correção monetária dos ativos imobilizados da estatal e dos passivos referentes aos empréstimos compulsórios tomados pelo governo nas décadas de 1960 a 1980 pode ser o divisor de águas entre atuais prejuízos (contestados pela 3G) e grandes lucros dos novos donos. 

O governo e o presidente da estatal, Wilson Ferreira, estimam que os passivos com as Obrigações da Eletrobras (origem dos empréstimos compulsórios) seria de R$ 15 bilhões. O mercado estima o dobro. Corrigindo os expurgos dos rendimentos vis-à-vis a inflação do IPCA nos planos Cruzado i e II, Bresser, Verão, Collor I e II, como está sendo agora reconhecido pelo STF nas cadernetas de poupança, se a questão não for pacificada antes da transferência do controle, pode sobrar para a União no futuro. 

Mas a correção aplicada ao passivo, por questão isonômica, teria de ser aplicada ao ativo. E aí, os valores saltariam exponencialmente. Os cálculos estimam que o valor do ativo (usinas, estações e linhas de transmissão), hoje de R$ 75/80 bilhões, passaria de R$ 200 bilhões com a correção integral. E como a tarifa é calculada em 3% do ativo... 

O trio bilionário surgido, na corretora Garantia, sabia fazer apostas de arbitragem de juros fixos contra a correção monetária futura de títulos públicos federais e estaduais negociados no open market dos anos 60, 70 e 80. Já no Banco Garantia amealhou assim os primeiros bilhões, partindo nos anos 80 para a compra de empresas no setor real (Lojas Americanas e Brahma). O trio envelheceu, se afastou das mesas de operações quando vendeu o Garantia para o Crédit Suisse, no fim dos anos 90, mas não perdeu o faro para grandes tacadas. 

Chamam a atenção alguns movimentos estranhos da direção da Eletrobras, que contratou, sem licitação, empresa de RP, por quase R$ 2 milhões mensais, e aprova anúncio depreciativo contra patrimônio a ser vendido pela União. O acerto ,com a Petrobras, de R$ 17/20 bilhões em dívidas das distribuidoras da Eletrobras (a serem privatizadas junto com quase 170 Sociedades de Propósito Específico, antes da empresa holding) também pode influir no balanço trimestral da estatal do petróleo, a ser divulgado dia 8, e no da Eletrobras (dia 16). Já o perdão de quase R$ 2 bilhões em dívida da Eletropaulo (surgida antes de sua cisão em quatro empresas), pode afetar sua disputa pela Enel e Neoenergia.

Despesas vieram da ampliação do Conselho de Administração e da criação do Comitê de Auditoria (três vagas remuneradas com 60% dos ganhos médios do CA). O novo formato facilitaria uma futura privatização que extraia ganhos também da remuneração dos representantes dos controladores.

Diante desta doação privada, há quem defenda, como Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES, que a Eletrobras seja objeto de “democratização do capital”. Suas ações (assim como as do BB, CEF e demais estatais) seriam doadas à Previdência, FGTS, PIS e Pasep. Seriam dos trabalhadores, sustentariam os fundos com dividendos e evitariam o apagão das contas públicas, oriundo do INSS e dos juros abusivos.