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O grande ‘Professor’ Paul Singer

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Os tempos são duros, muito duros, difíceis. Não bastava fazer 22 anos do massacre de Eldorado de Carajás, em 1996. Não bastava estarmos a exatos dois anos do golpe. Dia 17 de abril, outra triste notícia, a mexer fundo no coração: a morte do professor Paul Singer. Assim era chamado em todos os lugares: “O Professor”. Mas não era apenas isso. Era muito, muito mais.

Encontrei-o a última vez no Fórum Social das Resistências, em Porto Alegre, em janeiro de 2017, já enfraquecido, mas sempre presente, saudando todo mundo, falando com sabedoria. Perdemos um dos melhores de nós: amigo, companheiro, camarada. Sempre tinha uma palavra amorosa, ouvia muito. Falei na abertura da plenária do Consea/RS (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional), em homenagem, no dia do seu falecimento: “Para Paul Singer, a Economia Solidária tem/tinha que ser construída junto com políticas de segurança alimentar e nutricional, políticas de agroecologia e produção orgânica, isto é, matar a fome de pão. Ao mesmo tempo, para Paul Singer, a Economia Solidária tem/tinha que combinar políticas de saciar a sede de beleza, cidadania e direitos humanos, educação popular, participação social, democracia, educação pública, democrática e de qualidade”. 

Mensagem enviada pelo Centro de Assessoria Multiprofissional (Camp), Escola de Cidadania: “Hoje, a Economia Solidária perdeu seu grande construtor, Paul Singer. Escreveu, analisou e transformou a Economia Solidária em uma política pública que alcançou e mudou a vida de muita gente. Era um ser humano amoroso no sentido freireano. Queria mudar o mundo, torná-lo justo, com igualdade, direitos e solidariedade. Obrigado por tudo! Seguiremos sua luta”. 

Frei Betto também escreveu: “Nem só de pão vivem homens e mulheres. Exigem também beleza e esperança como razão de viver. Precisam ser semeados para nascer, crescer, florescer e frutificar. Na cultura humana, esses semeadores são chamados de educadores. Entre muitos mestres que se destacaram no Brasil, merece relevância Paul Singer. Na juventude, irmanou-se a classe trabalhadora, militando em movimentos progressistas. Participou da greve dos 100 mil na condição de operário, em 1953. Como educador, sempre procurou o contraditório, o pensamento radical e profundo. E desse lugar de intelectual orgânico fez sombra para que gerações de militantes e intelectuais se formassem. Foi preso político na ditadura e compulsoriamente aposentado. Sua história merece ser contada. Precisa virar filme para que as novas e futuras gerações conheçam e aprendam sobre o Brasil e o mundo no olhar dessa pessoa profundamente humana que é Paul Singer”. Hugo Giorgetti está preparando o filme “Paul Singer, uma história do Brasil”. 

Grande Paul Singer. Uma pessoa especial. Um companheiro de primeira, sem nunca vacilar. Nas dificuldades nos governos Lula e Dilma, e nos muitos avanços, estava sempre junto, solidário. No meu caso particular, era de uma gentileza e carinho ímpares. Lia meus textos, parecia que a gente se conhecia a vida inteira, apoiava a Rede de Educação Cidadã (Recid), incentivava a construção da Política Nacional  de Educação Popular, com o ministro Gilberto Carvalho. Sempre apoiador de todas as iniciativas, a Economia Solidária era sua vida e seu sentido, um Brasil com justiça e liberdade. Viva, Paul Singer. Paul Singer, sempre presente!

Os tempos são duros, difíceis, muito difíceis, democracia ameaçada. Perder um lutador, um intelectual orgânico, um militante solidário como ele, numa hora dessas, fará muita falta. Mas não o deixaremos só, nem ele nos deixará só. O Professor nos iluminará com suas palavras, seu sonho de justiça, sua permanente solidariedade.

* Ex-deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)