ASSINE
search button

Os riscos das eleições de 2018

Compartilhar

Se o conceito clássico de insanidade é fazer sempre a mesma coisa, aguardando um resultado diferente dos muitos anteriormente alcançados, um outro conceito importante é o autoengano, que consiste em fazer isso sem tal consciência consentida; ou seja: sem os jogos da sorte, como com frequência acontece com a insanidade, que faz a mesma coisa achando que terá resultados diferentes apenas porque, conquanto a coisa seja a mesma, o tempo é outro; tratando-se, nesse caso, de um novo jogo ou de uma nova sorte. 

Autoengano, portanto, é a deliberação que nos impele a fazer algo que, consciente ou inconscientemente, suspeitamos que não alcance os objetivos desejados, mas que, pela nossa boa intenção, desta vez, estabelecer-se-á diferente apenas porque cremos sinceramente que será diferente.  

O Autoengano são mentiras que contamos a nós mesmos e fazemos acreditar, funciona como um antídoto contra uma realidade adversa, contra frustrações e derrotas, sendo um tipo de reação que aflora como um entorpecente, para diluir o medo e a ansiedade que surgem quando há um conflito entre a pessoa que quem nós pensamos ser e o indivíduo que desejamos ser.   

Ao trazermos conceitos clássicos da psicologia para a análise diária de fenômenos de massa, somos tentados a utilizar tais preceitos como elemento auxiliar no processo de compreensão de parte do fenômeno em curso. E que consiste basicamente na incapacidade manifestada por segmentos da esquerda em identificar uma situação de forte anomalia. 

Os episódios recentes envolvendo a prisão do líder do maior partido da esquerda brasileira, e os desdobramentos no âmbito das eleições de 2018, são fatos que, em si, já representam um grande trauma para o partido, na medida em que seu líder é maior que a agremiação, e as lideranças de outrora estão todas isoladas, por cumprimento de pena, ou por opção própria. A verdade é que o PT está mortalmente ferido e sua permanência no cenário político vai depender exclusivamente do discernimento de seu quadro de filiados e das novas lideranças em encontrar soluções imediatas, que possam garantir algum proselitismo nas eleições de 2018 e ceder espaço para a composição de uma ampla frente de partidos com um programa comum e unidade na ação. 

A divisão em fragmentos de discursos e a tese do sebastianismo podem produzir uma segmentação tão expressiva, que nenhum representante de qualquer partido tido como esquerda terá algum protagonismo. 

A eleição de 2018 será marcada por um percentual recorde de abstenções, votos brancos e nulos, sendo os candidatos a cargos proporcionais – deputados federais e estaduais –, serão os mais prejudicados. A confirmação desse cenário poderá levar a um quadro em que nenhum candidato à Presidência tenha um percentual de votos superior a 20%, e uns dois ou três, embolados na faixa de 14% a 16%. Pelo apontar das pesquisas recentes teremos eventual segundo turno, em que o Brasil terá que optar entre duas alternativas marcadas pela ausência de compromisso com a democracia, valores republicanos e estabilidade política, e nenhum projeto consistente de sustentabilidade fiscal. A política tem a clarividência de forjar relações dialéticas. No cenário pré-crise, PT e PSDB eram colocados como duas faces de uma mesma moeda e, por vários motivos, cultuaram essa dualidade em parte, fruto das hegemonias do núcleo paulista na direção geral dos dois partidos. 

Não é estranho, portanto, a observação apontada nas pesquisas eleitorais, que indica a decadência dos dois partidos e a ascensão de partidos periféricos sem representação ideológica ou significado político. 

Como resultado, teremos que, qualquer que seja o vencedor na campanha presidencial, terá que governar com uma base ampla de partidos, em acordos espúrios, recheados de fisiologismo e barganhas, em composições instáveis (possivelmente nenhum partido obterá uma bancada com mais do que 11% dos deputados federais) e vários partidos do chamado centrão vão herdar votos dos partidos tradicionais moribundos. Conclusão: tudo mais constante, a crise política ainda nem começou.

* Economista