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Os 50 anos da morte do estudante Edson Luís

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Em março de 1968, a morte de Edson Luís, assassinato por uma bala da polícia, que reprimia as mobilizações estudantis no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, foi um marco nas lutas do movimento estudantil naquele período. A resposta à sua morte foi a passeata dos 100 mil, que repercutiu em passeatas em outras capitais e cidades do país, contribuindo para unificar o movimento estudantil nacionalmente. A partir de então, o movimento por mais vagas e mais verbas nas universidades públicas incorporou a palavra de ordem “Abaixo a ditadura” e foi, num crescente, até a decretação do Ato Institucional nº 05 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. O AI-5 acabou com o habeas corpus, perseguiu, prendeu e matou estudantes, iniciando o período de maior repressão do Estado de exceção instaurado no país com a ditadura militar de 1964. Edson Luís, estudante secundarista, foi uma vítima da repressão e se tornou um símbolo nacional como tantas outras vítimas políticas que acenderam o farol da luta pela liberdade. 

A morte de Edson Luís foi o estopim do movimento estudantil nacional, em um contexto internacional de movimentos de juventude. O maio francês veio depois, com o “é proibido proibir”. Não concordo com a visão de que a classe média brasileira, que apoiava a ditadura até então, tenha aderido ao movimento com a morte de Edson Luís. O movimento estudantil em 1968 era um movimento de massas, constituído basicamente por estudantes universitários de classe média. É só conferir, 

 nas estatísticas, a origem social dos que foram presos e mortos pela ditadura. O livro “Tortura Nunca Mais” traz esses dados. Os estudantes foram os protagonistas da luta contra a ditadura militar até a decretação do AI 5, que instaurou medidas de terror. Os poderes arbitrários desse Ato foram bem sintetizados nas palavras do presidente general Emílio Garrastazu Médici: “Eu tenho o AI-5 nas mãos e, com ele, posso tudo. Se eu não posso, ninguém mais pode”. 

O símbolo de Edson Luís se repete até hoje. Símbolos como esse são eternos! É viva a imagem do estudante chinês que, de braços abertos, na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989, parou os tanques que iam massacrar as manifestações estudantis por maior liberdade de expressão. Esse fato, entre outros, teve enorme consequência no desmoronamento do socialismo real dois anos depois. O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), em pleno exercício de seu mandato caracterizado na luta pela liberdade e igualdade de direitos dos mais pobres, é um novo marco na herança deixada por Edson Luís.

*Professora titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília