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Um estranho no ninho do  ‘Jornal do Brasil’?

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A maré não está mesmo para peixe, mas não acreditem nessa conversa de que somos um país predestinado ao fracasso. Isso não existe na história. A Suécia era um país pobre há 150 anos. A Finlândia era vista como o fim do mundo por seus vizinhos há 40 anos (aqueles finlandeses com cabelos tão claros tinham o estereótipo de pessoas bêbadas e perigosas, porque seriam hábeis com armas brancas). A China era um horror antes de Deng Xiaoping  – e, sob certo ponto de vista, continua muito estranha. Por que só estas terras tropicais estariam condenadas a não prosperar? 

A teoria econômica não conseguiu decifrar os segredos do desenvolvimento. Com a ajuda das Ciências Sociais e Humanas, Psicologia, principalmente, às vezes identifica algumas razões. Mas será sempre falha na tentativa de configurar um modelo de verdade absoluta. No entanto, sabemos, pela experiência e comprovação prática, que existem alguns pressupostos para o desenvolvimento. Não podemos comer todas as sementes.

É preciso poupar parte delas, para reiniciar o plantio e expandir a produção. É como se chama relação entre poupança e investimento. Significa um esforço, pois poupança é parte da renda não consumida. E como fazer tal esforço com renda baixa e consumo ainda abaixo de padrões razoáveis? Paciência, economia é “a ciência da escassez”. A ciência “da alocação de recursos escassos”. 

O investimento também só se realiza se aquele que ousa fazê-lo vê perspectiva de retorno pela frente. Se identifica oportunidades que se encaixem em suas habilidades e percepção. Para tal, precisa de um ambiente favorável aos negócios. Precisa de instituições que funcionem e, em função de acordo estabelecido pela maior parte dos concidadãos, estejam dispostas a proteger o patrimônio acumulado.

Propriedade não é um direito natural. É uma apropriação que se dá sob certas regras (mas não chega a ser o roubo a que Proudhon se referia). A propriedade coletiva não funciona nem aqui nem na China. Somos possessivos por natureza, nem adianta tentar discutir isso com o criador; para cuidar de outras coisas, ele instituiu o livre arbítrio para os seres humanos. 

Os economistas clássicos acreditam que a oferta geraria, mais à frente, uma demanda por bens e serviços. Então era só tocar para frente. Aprendemos também na prática que não é bem assim. A economia não anda apenas para a frente. Passa por ciclos. Para atenuar as fases negativas e inglórias, são necessários ajustes. Políticas públicas afinadas, que removam amarras, retirem obstáculos e às vezes tirem o mercado da areia movediça ou da lama em que foi parar. 

Ajustes que envolvem taxas de juros e câmbio, salários, redes de apoio social etc. Mas isso é tema para outro artigo. 

Uma palavra final: os leitores do “Jornal do Brasil” devem estar me estranhando aqui, pois passei quase toda a minha vida profissional em “O Globo”, na concorrência. Mas também tive minha passagem pelo JB, como editor de economia de setembro de 1983 a março de 1985. Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida profissional em face da situação que o jornal se encontrava. Mas fiz amigos (e amigas) fraternos. 

E um convite de Gilberto Menezes Côrtes, para mim, é irrecusável. Caminhamos na vida profissional juntos há mais de 40 anos. Um admirando o trabalho do outro, e vice-versa. É um prazer, para mim, colaborar, ainda que como um pingo d’água no oceano, com ele nessa árdua tarefa de ressuscitar um jornal. Se precisar, Gilberto, eu vou na oficina buscar a calandra, rsrsrs (piada que só jornalistas de outros tempos entendem; aproveita, Jan Theophilo, e explica para os outros em uma notinha, qualquer dia desses, rsrsrs).

*Jornalista, se declara “velho de guerra”, mas que “ainda não está morto”