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Estágios da fé 

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A busca espiritual está presente em todas as culturas humanas. Tal fato sugere que existe em nós uma tendência inata à espiritualidade. Uma forma de organizar as ideias sobre o assunto é a reflexão sobre a fé religiosa. A grosso modo, temos a possibilidade de estabelecer três diferentes e sucessivos estágios para a fé religiosa.

O inicial, mais primitivo e mais frequente, se caracterizaria por uma atitude semelhante à da criança pequena que aceita tudo o que lhe é dito sem discussão e sem dúvidas. Para as pessoas que vivem a fé nestas circunstâncias, as palavras do seu líder religioso são como as de um pai e as afirmações da religião são recebidas sem margem para qualquer apreciação. Sua atitude é de submissão sem hesitação. Em geral, são pessoas com pouca disposição para pensar e para questionar. 

Muita gente passa a vida neste estágio, sem evoluir. Podemos chamar este estágio de fé infantil. No que diz respeito à relação com o mundo, as crianças tendem a se acomodar durante alguns anos nesta atitude de pura obediência, para – geralmente no começo da adolescência – passarem a uma fase seguinte. 

Com a chegada da adolescência e o desenvolvimento da capacidade para pensar, os jovens entram em um período de questionamento em sua relação com os pais, os professores e demais adultos. De forma semelhante, e frequentemente na mesma época, a atitude para com a fé religiosa muitas vezes assim se modifica com o surgimento de dúvidas e questionamentos. Quando uma pessoa desenvolve em relação à sua fé esta atitude de rebeldia, podemos caracterizar este estágio como sendo de fé adolescente, embora aparentemente não exista em muitos casos nenhuma manifestação de fé. Apenas as crenças e afirmações religiosas por vezes se tornam alvo de um ceticismo exacerbado. 

As pessoas nesse estágio – apesar de não se classificarem como religiosas – estão em um nível mais elevado de espiritualização em relação ao estágio anterior. Suas incertezas denotam preocupações éticas e morais, um esforço pela busca da verdade e a recusa em aceitar uma obediência cega. Essa nova maneira de ser abre espaço para o aparecimento de uma postura reflexiva, onde a capacidade para pensar passa a cumprir um papel importante na evolução espiritual. A experiência de viver esta situação, típica da adolescência, abre caminho para a possibilidade de se atingir uma postura mais madura. 

O estágio de fé adulta corresponderia a atingir um patamar quando, depois de passar por um período de ceticismo, ocorre um esforço no sentido do encontro com algo que nos transcende. Geralmente essa procura se processa lentamente, ao longo dos anos. Pessoas interessadas em seu próprio desenvolvimento sentem necessidade de evolução espiritual e percebem que o caminho passa por uma mudança de postura. Tais pessoas chegam a um melhor desenvolvimento de sua espiritualidade reaprendendo a se maravilhar com o fenômeno da natureza e com a beleza das coisas na terra. Aceitam a transitoriedade da vida e se permitem saborear o milagre de simplesmente existir e de encontrar manifestações do sublime e da transcendência em si mesmas e no mundo ao redor.