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Cúpula dos Povos: representantes relatam pouco diálogo com governos 

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Na tarde da sexta-feira (22), aos pés dos Arcos da Lapa, o Grupo de Articulação (GA) da Cúpula dos Povos - formado por 13 lideranças que representavam 36 redes internacionais e nacionais de ONGs e movimentos sociais - encerrou oficialmente o evento que mobilizou centenas de milhares de ativistas ao longo dos últimos dias.

Às críticas pela fragilidade do documento final aprovado pelos chefes de Estado na Rio+20, eles acrescentaram a queixa pela falta de diálogo entre a sociedade civil e governos. Rejeitaram ainda o conceito de economia verde como solução para as questões ambientais e sociais.

“Nós somos a Rio+20, eles são a Rio menos 20”, disse, sob aplausos, Pedro Ivo Batista, um dos integrantes da GA. “Não nos reconhecemos na Rio+20, porque seus processos de comunicação não escutaram os anseios dos povos”.

Os membros do GA foram enfáticos ao afirmar que, apesar do fim Cúpula dos Povos, as campanhas e as ações, locais e regionais, de todos os representados continuam a acontecer. Eles também acreditam que o texto que elaboraram expressou a intenção do encontro: ser o contraponto ao documento oficial da ONU.

ONU e captura corporativa 

Os participantes disseram que o encontro de 40 representantes da Cúpula dos Povos com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, realizado na manhã de sexta-feira, foi pouco produtivo. Segundo eles, Ban respondeu às demandas de forma genérica e pouco contundente. O GA considerou que o setor privado promoveu uma “captura corporativa" da Organização das Nações Unidas.        

“O secretário-geral insiste em dizer que a economia verde é a única forma de desenvolvimento sustentável. É uma tentativa de fazer sobreviver o sistema capitalista e financeiro. Com isso, não temos acordo”, disse Luiz Gonzaga da Silva, da Central de Movimentos Populares e integrante da GA, que esteve com Ban Ki-moon.

Diálogo falho 

Para Darci Frigo, também integrante da GA, os representantes de movimentos sociais de outros países se queixaram de não terem diálogo com seus governos sobre os rumos da Rio+20 e a inclusão de termos no documento final. De acordo com ele, a situação foi semelhante entre os brasileiros.

“Cada país deveria ouvir seus representantes civis. Temos um problema na representatividade, um espaço esvaziado e uma fraca atuação da ONU. Tudo isso torna o diálogo muito difícil”, observou Frigo. “Há um problema de fundo: a qualidade da democracia no mundo está em baixa”.

Coordenador da Rede Matatlântica e componente do GA, Renato Cunha acredita que as demandas sociais não foram ouvidas pelas delegações da Rio+20, o que causou um documento “sintético”, sem metas nem compromissos. 

“Perdemos a oportunidade de grandes medidas, e o tempo é escasso. Grandes investimentos foram feitos nessa conferência e não se avançou em nada”, opinou. “Os chefes de Estado perderam oportunidade de fazer alguma diferença. Daqui a dois ou três anos, marca-se outra reunião para tratar dos mesmos assuntos que podiam ter sido resolvidos aqui”, ironizou.

Cunha também avaliou que a atuação do governo brasileiro foi um retrocesso, ao propor desenvolvimento da energia nuclear e não incluir temas considerados sensíveis no texto final da Rio+20.