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Vila Autódromo segue à margem das discussões sustentáveis da Rio+20

Comunidade, que fica próxima ao evento, enfrenta problemas de saneamento e transporte 

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Saneamento básico precário e transporte público ineficiente são algumas das pautas discutidas na conferência Rio+20, que acontece no Riocentro, Zona Oeste da cidade. A sete quilômetros dali, estas questões são os problemas diários dos habitantes da comunidade Vila Autódromo, que vêem sua rotina piorar ainda mais com a chegada das comitivas internacionais e o aumento da circulação de pessoas.

Uma das maiores reclamações dos moradores é a piora na oferta de transporte público durante o evento, já que a Prefeitura promoveu um desvio de trajeto nas vias da região para evitar engarrafamentos. 

"Falta ônibus, principalmente quando estes grandes eventos acontecem. É assim agora, foi assim com o Rock in Rio. E o pior é que eles estão aqui do lado discutindo questões de sustentabilidade, como melhorar a vida nas grandes cidades, como diminuir o tráfico. O próprio evento promoveu uma situação oposta ao que eles querem", afirma o músico Fernando de Oliveira, morador da comunidade há cerca de 10 anos. 

Com o rareamento de transporte em massa na região, o carro se tornou a única opção para os moradores que precisam se locomover por grandes distâncias. Para a mulher de Fernando, a aposentada Rosângela Camargo, que sofre com problemas na coluna, caminhar até um ponto de ônibus é impossível.

"Por sorte, temos carro, mas tem muita gente aí que não tem e se submete a isso. Eu tenho oito pinos no corpo, não posso caminhar muito, ou fazer grandes esforços. Então, usamos só o carro", analisa. 

Segundo o casal, dezenas de ligações e emails foram enviados à Prefeitura para a melhoria nas condições do local, mas nada foi feito. Com o evento, as margens do canal que envolve a comunidade foram limpas, mas apenas do outro lado, onde passa a Avenida Salvador Allende, acesso ao Riocentro.

A Vila Autódromo, formada inicialmente por pescadores que trabalhavam na Lagoa Jacarepaguá, é protagonista de diversas polêmicas envolvendo as obras para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que acontecerão na região. Para Rosângela, a constante ameaça de demolição das casas desanima os moradores a terminar suas residências.

"Aqui, a única coisa que temos que veio da Prefeitura é a luz elétrica, mas que também não chega para todo mundo. Não temos saneamento básico nenhum, a maioria das pessoas tem fossa mesmo, não temos asfaltamento, nada", afirma Fernando. 

Desperdício de água

O comerciante Cléber Pereira, de 38 anos, conta que há cerca de um ano o cano de uma instalação da Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) quebrou, e desde então, assiste a milhares de litros de água potável jorrarem para o canal poluído que vem da Lagoa de Jacarepaguá. 

"Nós já ligamos para a Cedae, ligamos algumas vezes desde que o cano quebrou, e tudo que eles falaram é: liga prum jornal, um repórter de uma emissora, apresentador de um programa, porque só assim mesmo", afirmou. 

O encanador Patrício dos Santos, de 26 anos, e sua mulher, Fabrícia Rocha, moram  exatamente onde está o cano quebrado. Segundo eles, a situação perto do canal piorou, principalmente com o evento, uma vez que o transporte ao redor da comunidade cresceu, aumentando a poluição do local.  

"Aqui, só piora. As únicas coisas que mudaram com o evento foi o aumento do policiamento. Também colocaram muito mais veneno para os mosquitos, porque aqui tem muito mosquito e agora diminuiu muito", contou. 

Conscientização

Apesar das condições ruins, a população da comunidade mostra consciência sobre alguns dos  problemas ambientais discutidos nos galpões do Riocentro. Para Fernando Oliveira, o que falta é vontade política e educação para que os moradores também contribuam para um mundo mais sustentável.

A poluição da lagoa e dos mananciais ao redor do local enfraqueceu a atividade pesqueira original da região, segundo o músico. Além disso, diversos animais que dependiam da Lagoa de Jacarepaguá perderam seu habitat natural, invadindo a comunidade e as estradas ao redor, conforme relatou Oliveira. 

"É preciso uma educação para as pessoas entenderem a situação. Temos um monte de espaço livre aqui na comunidade. Poderiam ensinar e incentivar os pescadores a criarem fazendas de criação de peixes, outras culturas, poderíamos fazer hortas comunitárias. Tem muita gente desempregada que conseguiria renda assim", conclui o músico.