Quem são os vândalos?
No dicionário Michaelis pode-se ler que a palavra “vândalo” é oriunda do latim vandalus e, quando usada como um substantivo, tem os seguintes significados: 1) membro dos vândalos, povos bárbaros que devastaram o sul da Europa e se estabeleceram no norte da África; 2) por extensão, aquele que pratica atos de vandalismo; e 3) por extensão ainda, indivíduo que comete atos funestos às artes, às ciências e à civilização. Prestar atenção ao fato de que o significado é abrangente e engloba também o indivíduo que comete atos funestos à civilização, ou seja, por extensão, todos aqueles que não contribuem para ou que prejudicam o bem-estar da sociedade.
Então, nessa abrangência, não seriam vândalos aqueles meios de comunicação que propositadamente informam à população versões erradas de fatos ocorridos, torcendo a realidade e omitindo outras versões e opiniões diferentes? Não seriam vândalos aqueles que desviam recursos do setor pblico?
Também, não seriam vândalos os juízes que julgam acusados, não pelos fatos e provas, mas pela visão da corrente política da qual são seguidores?
Assim, não seriam ainda vândalos os políticos que fazem de seus mandatos instrumentos, não para a melhoria da condição de vida da sociedade mas para satisfação de orgulhos e desejos materiais pessoais.
Não seriam vândalos os servidores públicos que esquecem o contedo pblico de suas atividades e se dedicam fortemente ao corporativismo?
Outrossim, não são vândalos aqueles que, de forma irracional, são acometidos de raivas e rancores extremados, sendo capazes de cometer agressões verbais e físicas?
Não são vândalos os que buscam reduzir ao máximo os salários e os benefícios sociais daqueles que empregam?
Não são vândalos os trabalhadores, que revoltados com supostas explorações patronais, depredam seus locais de trabalho? Não seria um ato de vandalismo a mídia quase nunca dar o microfone para as lideranças dos movimentos sociais e chamar sempre para opinar representantes do capital que nunca divergem e sempre se complementam?
A mídia, sistematicamente, quando deixa de promover debates públicos sobre os diversos temas polêmicos, não seria uma forma de vandalismo?
Não seriam vândalos os que entregam patrimônio público para grupos privados, principalmente estrangeiros? O leilão do campo de Libra, um patrimônio público incomum pela sua grandiosidade, não se enquadra em um ato de vandalismo?
São vândalos, sim, os que depredam bancos e estabelecimentos comerciais durante manifestações, mesmo que as injustiças sejam tantas que provoquem revolta.
É vândala, também, a polícia que exibe satisfação ao espancar e jogar bombas de efeito moral e spray de pimenta em manifestantes.
São vândalos os mandatários de cargos executivos eletivos que se negam a negociar com trabalhadores.
Como são vândalos os dirigentes de entidades que promovem as manifestações com o pensamento de que, “quanto mais quebra-quebra ocorrer, melhor.
No entanto, aproveitar o vandalismo para criminalizar os movimentos sociais neste rico momento de expressão de sentimentos e reivindicações que vivem é um erro profundo. Temos uma oportunidade incomum de crescimento da nossa sociedade. É necessário que cada grupo e cada cidadão façam neste fértil momento suas autoanálises, e, coletivamente, conquistemos um importante degrau superior na escala da conscientização política do povo brasileiro.
* Roberto Saturnino Braga é ex-senador pelo Rio de Janeiro e, bem como Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia.
