O amor que atravessa gerações

Por Siro Darlan* 

O Natal é tempo de falar de Amor, o amor de Deus pelos homens, mesmo aqueles não contemplados pela “boa vontade”, o amor dos homens uns pelos outros, o amor fraterno, maternal, filial, enfim todas as formas de amor que valem a pena.  

Cartas para Julieta parecia uma ficção cenematográfica longe de nossa realidade. Pois bem, acabo de conhecer Armando, de 79 anos, e Luiza, de 78. Ambos se conheceram no ano de 1952 e tiveram um rápido e tórrido caso de amor, que acabou um ano depois porque, segundo a família de Luiza, Armando era muito novo para ela, embora fôsse um ano mais velho.  

Ambos fizeram suas caminhadas paralelas, ela casou-se, teve filhos e foi feliz com seu marido, que veio a falecer no ano de 2000. Ele, também casado e com filhos, ficou viúvo no início de 2012. Nada diferente se Luiza tivesse sido apagada da vida de Armando, mas isso não aconteceu, e Armando passou toda sua vida escrevendo cartas e poemas para sua musa nunca esquecida. Uma vez viúvo, pediu a uma amiga que reencontrasse Luiza, o que aconteceu com sucesso.  

Armando escreveu uma longa carta de amor e desejou reencontrá-la. Surpresa com esse assédio, Luiza, que vivia uma vida pacata com os filhos e netos, reacendeu o fogo da paixão antiga e encontrou Armando. Para quem pensa que idoso não ama, engana-se. Os dois se reencontraram e nunca mais deixaram de andar juntos, numa louca e quase imprevisível paixão madura. Se o peso da idade trouxera dores e desânimo, o reencontro de um amor renovou os dois que não sabem o que é dor, reumatismo ou depressão.  

A força do amor é capaz de renovar a vida e fazer transdordar emoções adormecidas, e como dizia Camilo Castelo Branco: “O amor é a primeira condição de felicidade do homem”. Portanto, amem, sempre e muito, porque qualquer forma de amor vale a pena.


* Siro Darlan Oliveira, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, é membro da Associação Juízes para a Democracia. - sdarlan@tjrj.jus.br