Ministros digladiam

O desencontro entre Mantega e Lupi sobre o salário mínimo desgostou a presidente Dilma

Por Célio Junger Vidaurre

Mal começou o governo Dilma Rousseff, seus ministros resolveram aparecer para todo o Brasil com uma falta de bom entrosamento, que é necessário para que as coisas caminhem de acordo com o pensamento da presidente. A comunicação do ministro Guido Mantega de que o governo vetará qualquer pretensão no sentido de o novo salário mínimo ultrapassar a casa dos R$ 540 foi rechaçada pelo falastrão ministro do Trabalho, Carlos Lupi, dizendo que o governo pagará o que o Congresso decidir.

O desencontro entre os dois ministros nas divergências apresentadas para o aumento do salário mínimo desgostou a presidente Dilma que determinou, de imediato, que ambos auxiliares se mantenham em silêncio sobre o assunto, a fim de que o governo não sofra mais esses desgastes provocados por falta de uma boa articulação política.

Essa decisão da presidente, na verdade, foi uma trégua submetida aos dirigentes do PT, PMDB e PDT, obtida com a intervenção do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e a ajuda do vice Temer.

Fisiológicos como são, os partidos políticos brasileiros, através de seus dirigentes, almejam, primeiro, as famosas “boquinhas” do poder que, em suma, é o que Michel, Lupi e Paulinho da Força Sindical estão em busca desde o resultado do último pleito. Como Dilma assumiu e ainda discute quem é quem para o segundo e terceiro escalão, essa turma anda meio cabreira sobre o destino de seus protegidos.

Por outro lado, há ainda, além da Força Sindical do deputado Paulo Pereira do PDT, a mobilização de CUT, UGT, Nova Central, CTB e CGTB, que incluía uma manifestação terça feira, dia 18, em São Paulo, na Avenida Paulista, e em várias capitais do país. Aos trabalhadores não interessa essa discussão entre ministros, eles não abrem mão do mínimo de R$ 580 e de um reajuste de 80% do valor da remuneração conquistada para os aposentados que ganham acima do mínimo.

Querem mais, querem a correção da tabela do Imposto de Renda que cubra os 6,47% da inflação oficial de 2010. Como se vê, a situação não está dependendo apenas do que Mantega e Carlos Lupi discutem, há outros interesses em jogo. A sorte da presidente é que o seu protetor e antecessor Lula sabe, como ninguém, como lidar com esses representantes dos trabalhadores. Ainda mais, Lula morando ao lado da base dos sindicatos dos trabalhadores.

De antemão, já se sabe que, caso Lula queira participar dessa discussão a fim de proteger sua sucessora, o caso terá o desenlace pretendido por Dilma no sentido de o aumento do mínimo não complicar o que está previsto no Orçamento para 2011. Então, nesse caso, ganhará esse primeiro round o ministro Mantega. O que está evidente pelas circunstâncias iniciais é que, caso Dilma queira ter o mesmo sucesso que Lula teve ao trazer Sarney para o seu lado, faça o mesmo, traga Michel Temer que pode, e muito bem, ser o seu interlocutor não só junto às feras do PMDB como também junto aos outros líderes partidários. Michel é igual a Sarney, em tudo. È cobra criada e tem ao seu lado Moreira Franco, PHD em política.
A arte é como um toque de fantasia na realidade!

*Célio Junger Vidaurre, advogado, é cronista político. E-mail: celiovidaurre@yahoo.com.br. Acesse também o site www.celiojungereconvidados.com.br