Hotel Nacional: o último apaga a luz

Por Maria Luisa Melo

Coladinho ao Morro Dois Irmãos, com vista privilegiada da Pedra da Gávea e a poucos passos da praia de São Conrado, a imponente torre de 34 andares do Gran Meliá Hotel Nacional Rio, chama atenção de quem passa pela região. Depois de passar 21 anos fechado, o antigo Hotel Nacional, com 413 quartos e uma piscina em mármore branco voltada para a praia, passou por uma reforma que custou R$ 430 milhões. Foi reaberto em dezembro de 2016, sob operação da rede internacional Meliá. Depois de 15 meses, no entanto, o grupo está encerrando suas operações ali. 

O motivo para o fim da empreitada é a crise econômica pela qual passa o país e a violência que assola, sobretudo, a cidade do Rio. Além disso, segundo contam funcionários, o prédio deixou de ser atrativo para a rede espanhola pelo fato de não ter um centro de convenções em operação. O bar da cobertura também não está pronto. 

“O que sustenta um hotel na baixa temporada são os eventos. Sem o centro de convenções, ficou inviável”, diz um funcionário que cumpre aviso prévio. 

Depois de sua reinauguração, em 2016, o hotel chegou a ter cerca de 200 funcionários, que começaram a ser dispensados no último dia 9. A poucos dias de encerrar completamente suas atividades, um pequeno grupo é mantido ali. Sem hóspedes no hotel, a principal função dos colaboradores é recepcionar os que já tinham reserva feita e, desavisados, chegam de mala e cuia, além de desmontar os 300 quartos que estavam em funcionamento e inventariar objetos. Todos cumprem aviso prévio.  

Com reserva feita há dois meses, o casal de mexicanos Alejandro e Diana Doria, ficou decepcionado ao descobrir que as operações ali estavam sendo encerradas. “Não esperava que isso fosse acontecer em um hotel da rede Meliá, porque costumam ser excelentes. Não fizeram nenhum contato conosco. Nem por e-mail, nem telefone”, reclamou Alejandro. O casal foi transferido para o Hotel Sheraton, no mesmo bairro, onde uma reserva havia sido feita a pedido do Gran Meliá. Não deu nem para usar o wi-fi do lugar: “Estamos encerrando mesmo. Não tem como”, pontuou o recepcionista. O clima de fim de festa atingiu em cheio também os funcionários dali. Demitido ontem, o vigia Eliano Rodrigues, que trabalhava ali há dois anos, foi pego de surpresa. 

“Não sei exatamente o motivo da minha demissão. Acho que deve ter relação com essas últimas mudanças do hotel. Eu estava trabalhando aqui desde o início das obras feitas para o prédio voltar a funcionar. Vou cumprir aviso prévio e procurar um novo emprego”, conta o morador da favela da Rocinha, vizinha do hotel.  O canal de reservas foi encerrado no dia 1º de janeiro. Os últimos hóspedes deixaram o lugar na última terça-feira  e o grupo operador deixará, completamente o prédio, até o dia 31. 

“Os hóspedes não ficaram desamparados. Foi oferecido a opção de reembolso ou de hospedagem em outros dois hotéis, o Sheraton e o Pullman, os mais próximos”, defende um funcionário responsável por recepcionar os hóspedes que surgirem. 

As diárias para se hospedar em algum luxuoso quarto Gran Meliá Hotel Nacional variavam, pela tarifa de balcão, de R$ 599,00 -  na suíte classic, com vista para a montanha -  até R$ 2.800, nos andares mais altos, com direito à vista para o mar e para o Cristo Redentor.

Erguido em um terreno de 15 mil metros quadrados, em 1972, o hotel faliu em 1995, quando foi fechado. Sua reabertura, 21 anos depois, só foi possível graças ao investimento do grupo HN, que comprou a torre por R$ 90 milhões e investiu outros R$ 430 milhões em obras. A gestão, por sua vez, ficou sob batuta da rede espanhola de hotéis Meliá. O Jornal do Brasil tentou contato com empresa, mas não teve retorno até o fechamento desta edição. 

Patrimônio do Rio 

Inaugurado pelo argentino José Tjurs, proprietário da antiga rede Horsa, em 1972, o Hotel Nacional foi projetado por Oscar Niemeyer, com paisagismo de Burle Marx. Com a fachada única e os 520 quartos com uma vista privilegiada, foi considerado o mais moderno da América Latina e se transformou num dos mais badalados da cidade, disputando com o Copacabana Palace a preferência de artistas. Possuía um salão de convenções para 2.800 pessoas, menor apenas do que o Riocentro, além de um teatro para 1.400 espectadores, onde Liza Minnelli e B. B. King se apresentaram. Nos anos 80, sediou o Festival de Cinema do Rio e o Free Jazz Festival — este até 1994. Com isso, atraiu celebridades como Wim Wenders, Pedro Almodóvar, Nina Simone e Ray Charles. Foi também o pit stop de pilotos de Fórmula-1, quando o Rio recebia o GP Brasil. A escultura “Sereia”, de Alfredo Ceschiatti, instalada no solário, era um dos pontos turísticos do bairro. Foi tombado pelo patrimônio do município em 1998.