Garis entram no quinto dia de greve com passeata e denúncia sobre contratações

Categoria diz que prefeitura está pagando diárias para cidadãos; MPT avalia medida como legal

Por Cláudia Freitas

Após um grupo de garis alertar para possíveis contratações irregulares pela prefeitura do Rio de Janeiro para amenizar os efeitos da greve da categoria, que já dura cinco dias, a procuradora do Ministério Público do Trabalho, Deborah Felix, esclarece que no caso de serviços essenciais, a lei de contratação emergencial é permitida ao governo, mas as condições de trabalho vão definir se o acordo está dentro das regras constitucionais. Nesta terça-feira (17/3), os garis caminharam pelo Centro da cidade até a prefeitura, na Cidade Nova. Uma das pistas da Avenida Presidente Vargas, uma das principais vias, chegou a ser fechada pelos cerca de 300 grevistas.

Nesta segunda (16) o Jornal do Brasil flagrou um grupo de homens recolhendo lixo para a Comlurb no bairro do Estácio. Segundo os agentes, eles haviam sido convocados sem contrato e para receber uma diária de R$ 150 ou R$ 30 por período de trabalho. O grupo estava sem uniforme da companhia, todos vestiam calça jeans, tênis, camiseta e luvas.  

"Eu sou um cidadão que fui chamado para recolher lixo. Eu aceitei, estou recebendo. Não sou de nenhuma empresa", disse um dos "garis" enquanto seguia um caminhão da Comlurb. Os "novos garis", como eles mesmos se apelidaram, contaram que o convite partiu de um homem que caminhava à frente do caminhão, mas não souberam dizer se ele era funcionário da empresa. 

Um dos integrantes da comissão de negociação dos garis, Alexandre Pais, disse nesta terça (17) que o maior problema desta paralisação foram as contratações "feitas de forma irregular, burlando o concurso público". "Essas pessoas estão correndo riscos de pegar doenças, podendo se cortar com materiais, se furar, como acontece com o agente. Isso é muita falta de honestidade com os desempregados [se referindo às pessoas que eles dizem estar sendo contratadas pela Comlurb]", disse Pais.

Segundo ele, a categoria está "dividida". "A verdade é que muitos saíram de lá [da reunião com o Ministério Público do Trabalho, nesta segunda] confusos", contou. A procuradora Deborah Felix, que conduziu a reunião, disse que o retorno imediato dos garis ao trabalho não representa uma derrota, mas a retomada do diálogo. Ela lembra que os trabalhadores decidiram entrar em greve em assembleia realizada na última quinta-feira (12) e não cumpriram a comunicação prévia de 72 horas exigida na legislação para serviços essenciais. 

“É válido o direito de reivindicar, mas os trabalhadores podem ser prejudicados se a greve for considerada abusiva pela Justiça, podendo resultar no desconto de salários, demissões e pagamento pelo sindicato de multa”, alertou a procuradora. 

Uma nova audiência está marcada para esta quarta (18), às 14h30, no TRT, com os trabalhadores e representantes da Comlurb, para discutir as negociações referentes ao movimento. A categoria é composta por cerca de 24 mil trabalhadores, que prestam serviços de limpeza urbana, poda de árvores, preparação de alimentos em colégios e atividade administrativa.

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