Filho de pedreiro Amarildo vai desfilar em homenagem a Zuzu Angel

Por Paula Bianchi

Mais velho dos seis filhos do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, Anderson Dias, 21 anos, irá desfilar como modelo pela primeira vez na próxima segunda-feira em um evento que homenageia a estilista Zuzu Angel. Assim como Anderson e a família, que procuram pelo pai, visto pela última vez no dia 14 de julho quando foi levado algemado por policias da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, Zuzu emocionou o País com sua busca pelo filho, Stuart Angel, desaparecido durante a ditadura militar. Estudante de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Stuart militou no grupo de esquerda MR-8 e desapareceu em 1971.

Anderson e outros modelos irão desfilar usando réplicas de roupas criadas pela estilista como parte da homenagem aos 20 anos do Instituto Zuzu Angel que será realizada durante o Intercoiffure Regional, evento de beleza que acontece Shopping Fashion Mall, em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro.

“Nem sei descrever. Desfilar é um sonho e espero poder ajudar a minha família”, diz Anderson, que mora com a mãe e os irmãos na casa de uma tia desde o começo de agosto. Ao todo, 17 pessoas dividem dois quartos, sala e cozinha.

A família deixou a casa em que morava, também na Rocinha, por medo da polícia, principal suspeita do desaparecimento de Amarildo, e desde então tem sofrido para retomar a rotina e equilibrar as contas.

“Ficamos todos muito emocionados com a história do Anderson e de toda a família. Ele é um rapaz com muito potencial, esse desfile vai ser o pontapé inicial no que eu espero que se uma longa carreira”, afirma o cabeleireiro Ricardo Moreno, responsável pela presença do jovem no desfile.

Anderson, que chama a atenção pela combinação de pele negra e olhos azuis, já foi apresentado por Moreno à Agência 40° Models e começa a ter aulas de postura e desfile na próxima semana. “Afinal, nem Gisele nasceu Gisele”, lembra o cabeleireiro.

Na última segunda-feira, a Justiça determinou que o governo do Estado do Rio pague uma pensão mensal no valor de um salário mínimo à família de Amarildo, além de custear o tratamento psicológico de nove pessoas da família do ajudante de pedreiro no valor de R$ 300 a sessão.