Parada no Quadrado da Urca
Angelo Cuissi , Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Quem desce a avenida Pasteur, na Urca, passando pelo Iate Clube e tomando o caminho do mar, em pouco tempo chega a um pequeno e bucólico atracadouro conhecido como Quadrado da Urca. O Quadrado na verdade, um retângulo de 100 metros de largura por 50 de comprimento é abrigo, atualmente, para cerca de 120 pequenas e médias embarcações, além de caiaques de aproximação, garças, pescadores e casais em busca de sossego.
Quem quer lançar sua âncora neste espaço privilegiado geralmente faz um investimento inicial que vai de R$ 1,5 mil a R$ 4 mil reais, de acordo com a localização e o tamanho do barco. O estatuto da Auqua Associação de Usuários do Quadrado da Urca proíbe o fundeamento de embarcações medindo até 9 metros da popa à proa, padrão ignorado desde o princípio; estima-se hoje em 20 o número de inquilinos maiores do que isso.
Os pescadores do Quadrado pertencem à colônia Z-13, situada em Copacabana, atracadouro de barcos de tamanho similar. Poucos são profissionais: ganha-se dinheiro fazendo saídas de pesca com grupos, passeios marítimos e até festas particulares sobre as águas. Os clientes mais fiéis são os pescadores de fim de semana: uma saída no domingo pode levar até 10 horas, com comida e bebida acertado com o dono do barco garantidas. No trajeto, anchovas e garoupas, antes encontradas a uma distância de dez minutos, escasseiam cada vez mais, e as curvinas diminuem de tamanho a cada ano; pescam-se pequenas cocorotas de carne branca e saborosa, pergos, marias-mole e outras variedades de pescada.
Um dos mais antigos pescadores da Urca, Armando Lage - 79 anos de idade e 40 de mar - lembra com saudade das fartas pescarias de décadas passadas.
Levávamos o barco à boca da barra e em pouco tempo enchíamos um isopor. Mas nós pescamos de linha, e começaram a vir muitos que usavam redes conta Armando. Em pouco tempo, esse tipo de pesca acabou com os peixes.
Opinião idêntica tem o pescador Ipojucan José de Aquino, mais conhecido como Gambá (a origem do apelido ele não revela), há cerca de cinco anos no Quadrado: antes, pescou na Barra da Tijuca, Itaguaí e Seropédica. Para ele - que em algumas épocas chega a passar uma semana sem pisar em terra firme a sua casa no Estácio ou a cabine de uma baleeira são igualmente confortáveis. Na falta de um barco próprio, usa o de um amigo para pescar e, eventualmente, dormir. Conhecedor dos hábitos noturnos do pequeno cais, sente falta de coisas básicas.
Essa praça precisava de uma cabine da PM e de banheiros para os pescadores. Na semana passada um carro foi roubado - lembra Ipojucan.
As medidas reduziriam também o consumo de drogas que, segundo ele, ocorre tanto na praça quanto no Quadrado.
Além disso, o pessoal fala alto à noite. A vizinhança reclama, os barqueiros deviam prestar mais atenção se queixa o pescador.
Entre barqueiros e pescadores, a cidade e o mar, o Quadrado da Urca passa os anos; do experiente Armando Lage ao promissor Diogo Alberto, o pescador de nove anos fiel ao ofício de seu pai há cinco anos só pesca de linha a camaradagem entre aqueles que entendem a língua do mar vai sendo passada por gerações, sobrevivendo aos homens e servindo de refúgio. Do alto da pedra em frente, o Cristo Redentor abençoa todos eles.
