Ipanema mais feliz sem passarela do obelisco
Sthephani Dantas e João Pequeno, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Sete horas e meia foram suficientes para pôr abaixo 143 toneladas de ferro e concreto que, por 13 anos, só serviram para atrapalhar a vista de moradores e a atividade de comerciantes de Ipanema.
Por volta das 14h30 deste domingo, já não havia mais a passarela que nunca foi utilizada como tal e começou a ser derrubada às 7h.
Permanece no meio da Rua Visconde de Pirajá o obelisco, também não muito querido pelos moradores, mas que, por enquanto, não será retirado pela prefeitura. Ambos foram erguidos em 1996, na gestão de Cesar Maia, projetados pelo arquiteto Paulo Casé, como parte do programa Rio Cidade.
j
Dezenas de moradores assistiram à demolição da passarela, determinada pelo prefeito Eduardo Paes após uma enquete do JB Online, em abril, na qual 81% dos votantes pediram a retirada não só da passarela como também do obelisco. Paes deu um prazo de 100 dias para iniciar a demolição, tempo que havia expirado no mês passado.
O subprefeito da zona Sul, Bruno Ramos, destacou que essa é uma vitória da população.
Esse era um pedido antigo dos moradores e estamos muito satisfeitos de poder executá-lo. Demorou porque um projeto como esse precisa de muita preparação.
A principal reclamação era o abandono do monumento, que acabava servindo de abrigo para mendigos, além da sujeira que se acumulava, atraindo ratos.
Isso era uma aberração! disse Arnaldo Gorin, 63, arquiteto e dono de uma loja de decoração. Acumulava sujeira e o cheiro era horrível. Virou um mijódromo.
Inutilidade inata
A passarela nunca funcionou. A construção foi paralisada porque a largura não era suficiente para duas pessoas passarem em mão dupla. Houve uma tentativa de se colocar uma escada, mas por causa da reclamação dos moradores dos prédios ao lado, ela foi retirada
A passarela ficava a menos de dois metros das janelas das casas, isso é uma invasão de privacidade, além do perigo de assaltos argumentou Augusto Boisson, presidente da Associação dos Proprietários de Prédios do Leblon, um dos maiores defensores da demolição, que pode ter no obelisco sua próxima vítima Vamos avaliar agora, sem a passarela, que males ele traz para o trânsito. Se, de fato, for confirmado que ele é prejudicial, faremos uma campanha nos moldes desta. O problema mais urgente, porém, é a estrela de borracha no chão em volta do monumento, que faz os que carros derraparem na chuva.
Toneladas de entulho
A demolição começou com a retirada da estrutura metálica uma escadinha no projeto original sobre a pista, que foi fechada ao tráfego. Pesando sete toneladas, ela foi erguida por um guindaste e colocada no chão. Depois, os dois lados de concreto foram derrubados com um martelete hidráulico.
Após a demolição, funcionários da prefeitura seguiram removendo os escombros. Segundo a Comlurb, o concreto seria levado em oito caminhões com 17 toneladas de entulho, cada.
O trabalho mobilizou mais de 100 funcionários da prefeitura, entre Defesa Civil, Comlurb, CET-Rio, Subprefeitura da Zona Sul e Guarda Municipal.
Às 8h deste domingo, o local mais badalado de Ipanema não era o o Posto 9 nem o Coqueirão da praia. A Rua Visconde de Pirajá, principal do bairro e excepcionalmente fechada ao trânsito, concentrava o maior número de pessoas, que assistiam à demolição da passarela do Obelisco. Famílias inteiras observavam atentas, como se estivessem vendo um show.
Hoje o Rio amanheceu feliz! disse a presidente da Associação de Moradores de Ipanema, Maria Amélia Loureiro.
Feliz e em clima de festa. Variações de frases como Já era hora de tirar esse elefante branco daí eram ouvidas a todo instante.
Dezenas de moradores levaram câmeras fotográficas e filmadoras para registrar a queda da passarela, cuja estrutura de ferro do topo foi retirada às 9h.
Perguntada sobre como se sentia quanto à demolição, a espectadora Maristela Luis Pinto, 39, respondeu com uma pergunta: Você conhece alguém que ficou triste?
Eram poucos, mas existiram, sim. O estudante Vítor Pereira, 23, que passou pela rua quando ia em dirrção à praia, ficou surpreso e não aprovou a demolição:
O monumento tornava aquela rua diferente das demais. Se tirarmos essas construções, as ruas ficam todas iguais, sem graça.
Além de evento social, a demolição acabou se tornando um programa de pais e filhos, que se distraíram por algumas horas assistindo ao começo do fim. Edson Souza, 55, levou o filho Eduardo Moraes, 10, a pedido do próprio:
O sonho dele era derrubar o monumento com um tanque de guerra, quando soube que estavam demolindo, pediu logo para virmos.
O menino Eduardo gostou tanto que vai levar uma lembrança para casa: uma pedra remanescente da construção.
Vou levar para mostrar para os meus amigos do [colégio] Santo Agostinho contou, como se estivesse em posse de um .
Leilão frustrado
O presidente da Associação dos Proprietários de Prédios do Leblon, Augusto Boisson, também queria pegar pedras (por outro motivo), mas não teve tanta sorte.
Queríamos fazer um leilão das pedras maiores e doaríamos a arrecadação para o Dispensário dos Pobres, da Irmã Zoé, em Botafogo, mas a prefeitura não autorizou. Isso é um absurdo! A obra é da prefeitura, mas o dinheiro é nosso disse Boisson.
As pedras menores também tinham destino certo. Seriam vendidas pelo valor simbólico de R$ 1, que seria doado para Dona Antônia, empregada doméstica no Jardim de Alah que abriga, em sua casa no subúrbio carioca, mais de 200 cachorros abandonados recolhidos nas redondezas.
