Manuel Bandeira é homenageado na 7ª edição da Flip

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Juliana Krapp, JB Online

RIO - Numa justa homenagem a Manuel Bandeira, a palavra que melhor define a abertura da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, na noite de ontem, é um termo caro ao poeta do Recife: alumbramento. Foi por meio dela que o crítico literário Davi Arrigucci Jr. começou a sua leitura de textos-chave de Bandeira, partindo de Itinerário de Passárgada, para então avançar em poemas mais esparsos.

E "alumbramento" é também um termo apropriado pela fluidez emocionada - daquele tipo que carrega todo um universo consigo - com a qual Arrigucci discorreu sobre "o poeta da passagem para a poesia moderna no Brasil", nas suas próprias palavras. Muito à vontade no palco (ele já viera à Flip há cinco anos, para falar de Guimarães Rosa), o crítico ainda protagonizou o primeiro momento de comoção da plateia: quando o pesquisador Edson Nery da Fonseca, amigo e correspondente de Bandeira, chegou à Tenda dos Autores, instalando-se de cadeira de rodas na arquibancada. Arrigucci já havia começado a sua apresentação, mas fez uma pausa e pediu uma salva de palmas ao recém-chegado.

- Bandeira foi o primeiro poeta brasileiro a executar o verso livre. E isso não apenas trouxe a prosa para a poesia, mas também instaurou um ruído na musicalidade dos textos. E, assim, criou mesmo uma nova concepção do poético - explicou o crítico, para dar a real dimensão da importância de Bandeira para a nossa literatura.

Arrigucci também destacou o quanto o autor do Recife foi aquele que mais profundamente leu a tradição poética, abrindo inclusive a poesia brasileira para o simbolismo francês.

Nesta bela abertura, os alumbramentos de Arrigucci acabaram representando um elogio ao ato da leitura. Primeiro, pela proposta de sua conferência, baseada assumidamente em "leituras" de Bandeira - o que o apresentador fez duplamente, ao analisar e ao ler, de fato, trechos de seus poemas. Além disso, ele iniciou assim a sua conferência:

- A Flip a cada ano renova a nossa crença na leitura. Funciona como uma semeadura de nossos leitores - elogiou. - Creio que devemos nos orgulhar menos dos livros que escrevemos, e mais dos livros que lemos.

Para os pequenos

Fora da Tenda dos Autores, como já é de costume, o primeiro dia de Flip foi dominado pelas crianças. Enquanto a esperada multidão de turistas não chega à cidade - a previsão é que entre 20 e 25 mil forasteiros passem pelo balneário até domingo - as ruas eram delas: milhares de pequenos leitores participavam das atividades literárias ao redor da praça principal, onde se concentra o espaço da Flipinha. A maioria deles são estudantes da rede de ensino de Paraty; mas há também, claro, os de fora. É o caso da pequena Júlia Vilaça, de 4 anos que, apesar de ainda nem saber ler, já folheava os livros infantis pendurados numa das árvores da praça.

- É a terceira vez que venho à Flip, mas a primeira com a Júlia. Ela está adorando, fica elétrica - conta a webdesigner Lia Vilaça, tia da menina.

Entre os bonecos de Manuel Bandeira e os contadores de história que deixaram a praça coloridíssima, até a gripe suína deu o ar da graça. Em meio às crianças, um grupo de meninas participava das atividades usando as máscaras cirúrgicas que são o símbolo do medo do H1N1.

- É um protesto - afirmou Marina Luiza de Valecio, uma estudante de 13 anos, moradora do balneário. - A cidade está cheia de turistas, gente até de outros países, onde a doença já se espalhou. Acho que não estamos tomando a precaução necessária.

- E nós já temos um caso confirmado em Paraty - justificou Isabella Correia, também de 13 anos.