Encontros "extra-oficiais" têm roteiro gastronômico tranqüilo
Carlos Braga , Jornal do Brasil
RIO - A pulada de cerca é dos esportes mais praticados no Rio de Janeiro. Prática, inclusive, registrada em pesquisas antropológicas. Como em qualquer modalidade, precisa-se de lugares adequados para o seu exercício. E nem estamos falando dos motéis, e, sim, dos discretos bares e restaurantes que servem de ponto de encontro para os casais, digamos, extra-oficiais.
Dias como terça e quarta, entre o meio da tarde e o começo da noite, são os preferidos, de acordo com o relato de detetives particulares e garçons.
Estes mesmos profissionais apontaram lugares como Restaurante Esquilos (na Floresta da Tijuca), Real Astória (Botafogo), Confeitaria Colombo Café (Copacabana) e Praia Vermelha Bar (Urca) como os melhores cantos escondidos.
Geralmente os casais escolhem restaurantes mais discretos, no Alto da Boavista, Urca e Barra. Em um desses locais, houve o caso de uma adúltera com o chefe, filmado por nós. Ela disse para o marido que se tratava de uma reunião de trabalho, que não era nada daquilo que ele estava imaginando recorda o detetive particular Marco André, que calcula em 125 o número de pessoas que o contrataram para descobrir o que muita gente já sabia.
Como se pode imaginar, é coisa que exige cautela. Alguns, no entanto, exageram. Luis Eduardo Xavier de Souza, dono do discretíssimo restaurante Esquilos, localizado dentro da Floresta da Tijuca, está acostumado a encontrar homens e mulheres que freqüentam o lugar durante a semana com seus respectivos "caixas dois" e, nos fins de semana, aparecem com a família e fingem estar no lugar pela primeira vez. Perguntam inclusive o que há no cardápio e onde fica o banheiro. Também discreto, Luis Eduardo faz que nunca o viu mais gordo, muito menos com outra pessoa.
Isso acontece muito. O cara vem um dia com a filial, mas volta depois com a família. Ele faz questão de mostrar que está indo pela primeira vez, faz um teatrinho. Mas as mulheres fazem exatamente igual conta Luis Eduardo.
Passeio na floresta
Em uma dessas tardes de terça-feira, o telefone tocou no Esquilos. Luis Eduardo atendeu e a voz de um homem perguntou quantas pessoas havia no restaurante. Ele respondeu que tinha três mesas, ocupadas por casais, mas que havia outras disponíveis. O homem prometeu ligar mais tarde. No terceiro telefonema da mesma voz, Luis Eduardo responde que não havia mais ninguém. O homem avisou que estava a caminho.
Alguns minutos depois, entrou no salão um senhor de 75 anos, um pouco aflito. Sentou-se à mesa e disse que estava esperando alguém. Acostumado com a cena, Luiz Eduardo esperava a chegada de uma mulher bem mais jovem. Para a sua surpresa, aparece uma senhora com uns 85 anos.
Ele vem com a amante pelo menos uma vez por mês. Sempre liga antes, entra na casa, inspeciona, olha, e só entra quando não há ninguém. Às vezes fica passeando na floresta até sair todo mundo conta Luis Eduardo, revelando que uma amiga, casada, que não sabia que ele era dono do restaurante, ficou três horas escondida no banheiro Ela achou que eu ainda não a tinha visto com outro homem na mesa.
Nem todos os casais extra-oficiais dão preferência aos lugares escondidos. Até mesmo os lotados bailes funk são procurados. Principalmente por policiais, segundo Marco André. O DJ Marlboro arrisca uma explicação.
Tem muita gente dançando. E em baile, mulher dança com mulher e homem dança com homem. Não tem essa cultura de homem e mulher dançando grudados. Podem estar juntos sem estar juntos teoriza.
