Cresce preocupação com o bullying em colégios do Rio

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Debora Motta, Agência JB

RIO - O crime que ocorreu na última quarta-feira em Tuusula, na Finlândia em que o estudante de 18 anos Pekka-Eric Auvinen disparou 69 tiros, matando oito pessoas no Jokela High School e se suicidando em seguida -, traz à tona o debate sobre transtornos comportamentais na adolescência. O incidente lembra os massacres das universidades americanas Virginia Tech e Columbine, realizados por jovens alunos, vítimas de bullying, que mataram vários colegas e professores, além de cometerem suicídio.

- Os massacres da Virginia Tech e da Columbine estão relacionados a jovens que sofriam com o bullying, série de agressões física, moral e verbal, freqüentemente recebidas na escola. Nesses casos, a agressividade contida culminou nesses atos extremos de violência diz o psiquiatra Gustavo Teixeira, autor do livro 'Transtornos comportamentais na infância e adolescência'.

- Ainda é cedo para avaliar se esse massacre da Finlândia foi motivado especificamente pelo bullying, mas o motivo que levou o garoto a cometer esse crime certamente está relacionado a transtornos psicológicos de conduta acrescenta.

Características do bullying

Bullying é o termo inglês utilizado para definir atos de violência física ou psicológica, praticados de forma intencional e repetida contra um indivíduo. Pode começar com um simples apelido que desencadeia uma série de situações vexatórias.

- Os autores de bullying não respeitam a autonomia de outras pessoas e são jovens violentos, muitas vezes a um passo da delinqüência juvenil. Já os alvos do bullying são jovens retraídos, depressivos, que têm dificuldade de se defender das agressões e de se comunicar, além de ter péssimo rendimento nos estudos e nos esportes explica Teixeira.

- As vítimas de bullying normalmente são jovens de outros Estados, países, religiões, e com biótipos fora do padrão de beleza vigente, ou muito gordos ou magros demais. Como esses alvos não conseguem suportar a agressão, muitas vezes tentam o suicídio. Muitos apresentam transtornos comportamentais como fobia social e depressão - acrescenta.

Apesar de ser comum nas escolas, o bullying não está restrito à infância e adolescência. Ele ocorre também com adultos no ambiente de trabalho.

- O bullying não atinge só adolescentes. É comum que jovens alvos de bullying na escola tornem a ter esse comportamento na idade adulta. Por serem inábeis socialmente, eles não sabem se impor. Isso propicia o assédio moral diz o psiquiatra.

- Há uma semana, atendi uma paciente adulta que sofre o que chamamos de work place bullying , no ambiente de trabalho. Aos 32 anos, ela trabalha numa grande multinacional carioca e sofre lá com violência psicológica. Por conta disso, está fazendo um episódio depressivo muito grave e até pensa em suicídio, mas não consegue se defender da situação relata Dr. Gustavo.

Bullying no Brasil

Ao contrário do que possa parecer, o Brasil se destaca no ranking dos países com maior número de registros de bullying. De acordo com estudo realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), foram identificados índices altos, não muito distantes dos encontrados nos Estados Unidos, Austrália, Europa e Canadá.

- Infelizmente, muitas escolas dizem que o bullying não existe. Ou a direção do colégio nega o problema ou eles estão muito desatualizados. O bullying ocorre em todas as escolas, em cidades grandes ou pequenas, e em instituições de todos níveis sociais diz o Dr. Gustavo, editor do site www.comportamentoinfantil.com

Porém, o tema já mobiliza alguns colégios do Rio de Janeiro. A escola Sagrado Coração de Maria, de Copacabana, tem uma política educacional contra o bullying.

- O bullying é uma preocupação que várias escolas começam a ter na cidade, inclusive as públicas. Agimos através do monitoramento dos professores. Uma intervenção com reflexão. Tem casos de implicâncias que a gente trabalha mais através da conversa. Quando necessário, a gente chama as famílias diz a orientadora educacional Verônica Portugal.

Responsável por ministrar aulas para introduzir o tema aos alunos, a orientadora Denise De Regina conta que a ação pedagógica contra o bullying é preventiva no colégio.

- Temos casos, todos os colégios têm, mas nunca houve aqui nenhum tipo de violência física. O termo bullying é novo, mas o assunto é antigo. Os casos que temos aqui são coisas como roubar lanches, fazer um desenho, colocar um apelido constrangedor, ou seja, de discriminação em geral diz Denise.

- O que melhora um pouco é a prevenção e a intervenção imediata, para que os alunos fiquem à vontade para conversar com a gente e não participem do bullying nem como testemunhas ressalta.

O Colégio Pentágono, de Vila Valqueire, também está atento à questão:

- Tratamos o assunto com mais seriedade. Se percebemos, conversamos com a família e encaminhamos os alunos. A vítima não é só quem sofre o bullying, é também quem pratica e quem observa e tem medo de ser o próximo alvo - diz a pedagoga Mônica Andrade, acrescentando que nunca houve caso de agressão física grave no colégio.

Para o Dr. Gustavo Teixiera, a escola deve participar junto com os pais para levar a informação de que o bullying é um problema.

- É muito comum escutar alguns pais justificando o ato dos filhos com frases do tipo isso é brincadeira de criança . Se só o autor da brincadeira se diverte, os casos devem ser encaminhados para uma avaliação comportamental com psiquiatra especialista em transtornos da adolescência - avalia.

- A família precisa saber o que é o comportamento bullying, que ele tem incidência alta e conseqüências graves, como a repetência escolar, o suicídio e até a violência extrema. A escola pode iniciar um trabalho e num segundo momento criar comitês anti-bullying para evitar essa cultura da violência recomenda.