Paes adota estratégia mais incisiva, enquanto Witzel joga no contra-ataque no último debate na TV antes das eleições

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Paes voltou a questionar a relação de Witzel com advogado de traficante, enquanto o ex-juiz insistiu em associar ex-prefeito aos governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão

O último debate entre os candidatos ao governo do Rio antes das eleições de domingo, transmitido ontem à noite pela TV Globo, correspondeu às expectativas geradas após as pesquisas eleitorais apontarem a redução da distância entre Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM). O ex-prefeito tomou a iniciativa e deixou o ex-juiz na defensiva em boa parte do encontro, apostando na audiência da emissora para dar maior repercussão às acusações feitas nos confrontos anteriores.

Logo na primeira pergunta, Paes para o ataque. Sem dar sequer boa noite aos telespectadores, abriu a atração arguindo Wilson Wiztel (PSC) sobre sua relação com Luiz Carlos Azenha, advogado que colocou o traficante Nem na mala do carro para ajudá-lo a fugir da Rocinha e escapar do cerco policial. Fazendo menção a uma troca de mensagens divulgada pela revista “Veja”, perguntou: “Por que você quis pagar o Azenha em dinheiro vivo? Que dinheiro era esse”, insistiu Paes. Witzel desconversou dizendo que seu objetivo no debate era discutir os problemas do Rio.

Paes voltou a colocar em xeque a integridade moral do ex-juiz ao lembrar que ele não dispensou mordomias, pegou empréstimo com a ex-sogra e não pagou bem como estava sem pagar IPTU: “Sua falta de coração atingiu até sua ex-sogra, uma senhora de 86 anos, com Alzheimer, a quem você deve dinheiro”. Na sua resposta, Witzel afirmou não responder processo e mencionou a delação de Alexandre Pinto, ex-secretário de obras do então prefeito Paes, que o acusa de receber 1,75% de comissão nas obras.

Paes encerrou o primeiro bloco ironizando Witzel quando ele afirmou que iria investigar a lavagem de dinheiro do tráfico como forma de combater a violência do Rio. “Sou obrigado a voltar a perguntar sobre o Azenha, que você já disse que o representa: por que você pediu para ele passar em sua casa para pegar dinheiro vivo? É tudo muito esquisito”, alfinetou Paes.

No segundo bloco, com temas pré-estabelecidos e sorteados na hora pela mediadora Ana Paula Araújo, os ataques foram menos intensos e foi a vez de Witzel ensaiar uma reação. Indagado sobre seus planos para a Cedae, o candidato do PSC afirmou que não pretende privatizá-la, mas reestruturá-la e, ao ouvir a réplica do adversário, que disse apostar nas Parcerias Público Privadas (PPPs) para levar água à Baixada Fluminense, a São Gonçalo e a bairros da Zona Oeste com o abastecimento precário, o ex-juiz lembrou “Fizeram a Copa, depois veio a Olimpíada, Porto Maravilha, gastaram mais de R$ 40 bilhões em obras superfaturadas. Agora estamos pagando por essa corrupção. Derrubaram a Perimetral e não se sabe até hoje aonde as vigas foram parar”.

Na pergunta sobre habitação, Paes acusou o rival de desconhecer o tema do urbanismo, por sugerir a expansão da cidade para a Zona Oeste e a construção de conjuntos habitacionais ao longo do Arco Metropolitano: “É pra fazer o oposto do que você está dizendo. Isso que você sugere, ao levar a população para áreas sem infra-estrutura, encarece os custos do governo. O certo é procurar os vazios urbanos”, contestou o ex-prefeito. Witzel voltou ao ataque ao criticar a resposta de Paes sobre os transportes, em que o ex-prefeito se gabou de ter introduzido o bilhete único e o sistema do BRT, “desmontando a caixinha da Fetranspor”: “Você, motorista de ônibus obrigado a fazer a dupla função, você, passageiro que não tem transporte de qualidade, que viaja sem ar-condicionado, a culpa disso tudo é a corrupção, e o candidato adversário tinha como secretário de Transportes o filho do Picciani [Jorge Picciani, ex-presidente da Alerj, preso por corrupção]”.

No terceiro bloco, os candidatos voltaram a fazer perguntas entre si, e Paes se manteve no ataque. Witzel tentou vincular ao PT o programa do opositor para educação, ao que Paes ironizou: “Lá vem ele com escada, com a bengala. Minha secretária de Educação na prefeitura foi Claudia Costin”, afirmou. Em resposta, Witzel afirmou que sua proposta é a “escola sem partido” e aproveitou para afirmar que ele tem o apoio do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL). “Meu Deus do céu. Parece uma criança dizendo que está feliz com o apoio do Flávio. Ele vai ser um grande senador, mas não é quem vai segurar a caneta do governador. O que vai resolver as questões é competência”, rebateu Paes.

O candidato do DEM questionou ainda as relações de seu opositor com o pastor Everaldo, Mario Peixoto e Hudson Braga, todos envolvidos com a Lava Jato. Sem responder, Witzel afirmou que Paes é que tem sete delações na Lava Jato e é um “candidato pendurado em uma liminar”.

No quarto bloco, também com temas sorteados, as alfinetadas foram menos agudas, mas atravessaram réplicas e tréplicas. Paes armou uma arapuca para Witzel ao afirmar que não havia no programa de governo do candidato do PSC “nada sobre educação infantil”. O ex-juiz em tom professoral respondeu que não havia nada sobre educação infantil em seu programa “porque não é responsabilidade do estado, mas dos municípios”, acrescentando que o estado precisa é investir na educação profissionalizante e na pesquisa tecnológica. Na réplica, Paes lembrou que “de fato, a educação infantil não é atribuição do estado, mas é fundamental que o estado lidere esse processo, estabeleça metas e ajude as prefeituras a cumpri-las, em vez de empurrar o problema com a barriga, como se não tivesse nada a ver com isso”.

Ao debaterem as UPAs e a situação dos hospitais da rede estadual que estão com centenas de leitos desativados, os dois candidatos voltaram a se desentender sobre as propostas. Witzel afirmou que pretende negociar com casas de saúde a abertura de sete mil leitos e ouviu o adversário acusá-lo de estar propondo a “privatização e a terceirização da saúde”: “Não precisa fazer nada disso. Para que pagar clínicas particulares. Precisamos é recuperar esses leitos ociosos da rede estadual”, disse Paes.

Nas considerações finais, Paes arrancou gargalhadas da plateia ao comparar o candidato adversário com um Kinder Ovo, o chocolate que vem com uma surpresa dentro: “Cada hora que você abre, é uma surpresa. Eu sou uma pessoa que você conhece. Ao contrário do candidato que a gente conhece há 20 dias e que de folha em branco passou a ter algo mais parecido com uma folha corrida”, afirmou. Witzel se apresentou como um “cidadão indignado com tanta corrupção” e disse que sua candidatura representava a luta do bem contra o mal.