Eleitores de Witzel e Paes fazem cobranças do quintal de seus candidatos: a padaria Jóia do Grajaú e o Cachambeer

Por Maria Luisa de Melo

Os irmãos Francisco e Sebastião, da Jóia do Grajaú, apoiam Witzel: promessa de segurança

O cafezinho, às 6h30, na padaria Jóia do Grajaú, ao lado da mulher, deixou de ser sossegado para o ex-juiz Wilson Witzel (PSC), depois que decidiu virar candidato a governador do Rio. Desde que a campanha começou, ele passou a ser abordado pela vizinhança do bairro e teve que trocar o semblante sisudo por um sorriso, ainda que tímido, para driblar a fama de antipático.

“Estou confiando em você. Não me decepcione como os outros”, ordenou a nutricionista Claudia Coelho, de 54 anos, quando encontrou o candidato na calçada da simpática padoca na quarta-feira. Witzel respondeu à cobrança com uma aproximação: pegou no colo o yorkshire da vizinha, Bigode, e deu ouvidos às reclamações da eleitora: “Tem que resolver logo essa questão da segurança. A gente não aguenta mais ser assaltado. Aqui na rua, praticamente todo mundo já passou por isso”.

Simpatizante de Witzel, a dona de Bigode minimiza a falta de experiência política de seu candidato no exercício de cargos públicos e critica a gestão de Eduardo Paes na prefeitura para justificar o voto. “Esse ex-prefeito deixou nossa rua toda esburacada. Isso, quando a prefeitura tinha dinheiro. Hoje, com o estado falido, o que será de nós? Não quero ele como futuro governador. Esse futuro já passou por aqui e já sei o que virá”, discursou.

Proprietário da padaria, Sebastião Pedro da Silva, de 49 anos, contou que desde que “Seu Wilson” se mudou para a rua, há mais de cinco anos, os assaltos no estabelecimento se tornaram menos frequentes. Outros vizinhos lembraram que a padaria já teve um “assaltante exclusivo”, que cometia seu crime “sempre às três da tarde”. “A situação é vergonhosa. Por isso, queremos mudanças. Estamos cansados. Ele [Witzel] prometeu não se mudar daqui e expandir para cá o programa segurança presente”, disse o riograndense do Norte Sebastião, que apoia, também, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Os pedidos foram além do tema da segurança pública. Proprietário de um hostel no Maracanã, o empresário Célio Castro, de 52 anos, interrompeu o café para cobrar soluções para o turismo. “Há quatro anos, aquela região do Maracanã está em completa indefinição. O Maracanãzinho está há muito tempo fechado. Quanto menos a região fica movimentada, mais os turistas têm medo de sair na rua”, reclamou, até ser interrompido por Witzel: “Vamos chegar a quatro milhões de turistas no Rio. Serei garoto propaganda. Pode confiar”, afirmou o ex-juiz, em tom de brincadeira.

Votação dividida

A sete quilômetros dali, no tradicional Cachambeer, restaurante frequentado por Eduardo Paes (DEM), desde o início do primeiro mandato, os eleitores estão divididos. Enquanto o dono do bar, Marcelo Novas, defende Paes e até trabalha voluntariamente em sua campanha, seus clientes fazem duras críticas ao candidato a ocupar a cadeira de governador do Palácio Guanabara. “Queremos algo diferente dessa corja do Cabral. Mesmo sem experiência, achei o Witzel mais preparado para assumir o governo. Sua proposta, mais focada em saúde, educação e segurança, me agradou muito. Sobre a carência do estado por mais segurança, nem preciso comentar. Na área da saúde, tô cansado de ver familiares meus minguarem nas filas das UPAs [Unidades de Pronto Atendimento]. Isso vai acabar”, afirmou o bancário Rafael Mansur, de 28 anos, que reuniu um grupo de amigos, na última sexta, para celebrar a proximidade do nascimento do filho.

Entre seus amigos, o também bancário Hugo Toledo, de 26 anos, aposta em “novidades”. “Busco coisas novas. O foco do próximo governador precisa ser a segurança, porque o índice de roubo e criminalidade é muito grande. Acho que ele [Witzel] vai ter mais transparência, por ser ex-juiz, e é mais ligado a Bolsonaro. Acho que o estado só vai conseguir melhorar se tiver um governador alinhado com o presidente”, disse.

Entre um petisco e outro e a famosa costela no bafo exposta na mesa do grupo, os amigos empresários Sidney Carvalho, de 53 anos, e Daniel Mondego, de 43, saíram em defesa do ex-prefeito. “É um candidato que conhece o Rio. Quando vem aqui, interage, bebe, fala com todos. Sabe tudo de chope e samba e também de administração pública. Como prefeito ,realizou muito no subúrbio”, afirmaram. “O outro candidato não fede nem cheira. Não é do Rio, não conhece o Rio, não tem experiência na política e já quer começar a carreira como governador? Vai começar já querendo sentar na janela?”, questionou Sidney, enquanto esfriava a garganta com um chope geladinho.

Foi ali, no Cachambi, que o então prefeito fez alianças e tomou muito chope gelado na campanha do governador Luiz Fernando Pezão (MDB). A relação de Paes com o bar é tão próxima que o então prefeito era o único cliente do estabelecimento com direito a fazer pedido para entrega em casa — a residência oficial na Gávea Pequena era o CEP preferencial e exclusivo para ser abastecido com bolinhos de feijoada, costelas no bafo e pastéis de camarão.