Folha Seca, a mais carioca das livrarias, chega aos 21 anos de idade, 15 de Rua do Ouvidor, com festa, samba e livros

Por LUIZ ANTÔNIO SIMAS *

"Há 15 anos, em janeiro de 2004, Rodrigo Ferrari e Daniela Duarte transferiram a livraria e edições Folha Seca do Centro de Artes Hélio Oiticica, ao lado da Praça Tiradentes, para o número 37 da Rua do Ouvidor. Ficou claro, ali, como um certo número de sebastianopolitanos, natos ou não, carecia de ao menos um desses redutos (o nome é este) na velha rua em que existiram as míticas livrarias Garnier, Universal e José Olympio." (Cássio Loredano, caricaturista e frequentador da Folha Seca)

Folha Seca é o nome de um caboclo de umbanda, é o chute certeiro do Didi, é o singular do samba do Nelson Cavaquinho e do Guilherme de Brito e é a livraria mais importante da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Fincada no solo carioca da Rua do Ouvidor, a Folha Seca é uma espécie de extensão da minha casa, posto que ocupa desde os tempos em que funcionava no Centro de Artes Hélio Oiticica. Lá eu vou atrás de livros, o papo com as amizades e as cervejas geladas da Toca do Baiacu, o botequim vizinho. Parar de tomar cerveja com as amizades seria como parar de ler e não concebo a vida sem alguns ritos civilizatórios fundamentais.

Tocada pelo Rodrigo Ferrari, o Digão, um livreiro que sabe o que está vendendo, a Folha Seca é, sobretudo, um canto de defesa das culturas das ruas do Rio de Janeiro: do samba, do botequim da esquina, dos terreiros, do velho Maracanã de geraldinos e arquibaldos, do Império Serrano cantando os cinco bailes da história do Rio, do Marafa de Marques Rebelo, das duplas Pelé e Garrincha e Pixinguinha e Benedito Lacerda.

No dia 20 de janeiro, festa do padroeiro católico amalgamado ao Oxossi caçador das macumbas do Rio, a Folha Seca vai, como sempre, celebrar a rua, a cidade e a sua própria história, com música, bate-papo e livros. Neste ano de 2019, a livraria está celebrando a força das mulheres cariocas. Mulheres como Daniela Duarte, parceira de tanto tempo do Rodrigo na criação da livraria e fundamental para a história da casa, e Maria Helena Ferrari, a mãe do Digão, sempre firme no apoio ao filho na condução da barca de livros e amizades.

Eu prefiro não comprar em megalivrarias, não compro livros pela internet e sou cliente de uma pequena/imensa livraria de rua. É o que está ao meu alcance fazer como um sujeito que preza os livros, as amizades, as esquinas. É também uma maneira de lutar, cotidianamente e nas miudezas, para que a cidade tão ameaçada pela boçalidade dos intransigentes seja mais afável com a sua gente.

Fica minha sugestão simples: escolham as suas livrarias de rua e sejam, na medida do possível, fiéis a este amor cotidiano e necessário. A minha é a de sempre e vou celebrá-la reverente no dia do padroeiro, tirando as flechas do peito do santo, delirando os malabarismos da redonda no chute do Didi e escutando na flauta que chora o brado do caboclo de lança.

* especial para o JB