Moradores estão otimistas, mas ambulantes da Praça Saens Peña temem 'rapa' com o Tijuca Presente
O programa Segurança Presente chega hoje à centenária Praça Saens Peña, na Tijuca, com o desafio de transformar num cenário de paz e tranquilidade o local que se tornou um símbolo da insegurança e da desordem urbana. Na área, antes frequentada pelos moradores como lazer, o que se vê atualmente é um clima de medo, provocado por pequenos delitos, como furtos de celulares, joias e assaltos. Cansados da ausência do poder público nas redondezas, moradores e comerciantes esperam que as ações do programa, que começa hoje, devolvam a tranquilidade ao coração do tradicional bairro da Zona Norte. As operações do programa também serão iniciadas hoje na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na Zona Sul.
Na Saens Peña, uma das reclamações recorrentes entre moradores e comerciantes é a ausência de policiamento e de guardas municipais. Segundo eles, os assaltos ocorrem a qualquer hora do dia. “O meu marido já teve uma pulseira de ouro roubada por um menor. Eu já assisti a vários roubos de celular, até dos meninos roubando celular dos ônibus parados no ponto da praça”, contou a pensionista Sônia de Souza, de 56 anos, que está otimista: “Acredito que vá melhorar”.
O gerente de banca de jornal Marcelo Gomes, de 45 anos, diz que devido aos vários delitos muitas pessoas evitam frequentar a praça o que, segundo ele, prejudica o comércio. “A sensação de insegurança é geral. Há muitos pedintes na praça. Eles abordam as pessoas aqui dentro da banca. Sei que o Centro teve bons resultados, espero o mesmo para Tijuca”, contou.
O estudante universitário Natanael Pinto, de 46 anos, também faz críticas ao policiamento: “O policiamento é insuficiente e a Guarda Municipal é inoperante. Já presenciei dois roubos de celulares, mas ninguém fez nada”, lamentou.
Lazer abandonado
Na praça, o chafariz não tem água. Os brinquedos das crianças estão quebrados. Os bancos e o coreto estão ocupados pela população de rua. O uso de entorpecentes é frequente. Nos fins de semana, o coreto é usado por famílias inteiras de moradores de rua que levam colchões, cozinham e já improvisaram até uma televisão no local.
“O chafariz virou um mictório e depósito de restos de comidas dos mendigos. Nas calçadas, são tantos os camelôs que mal conseguimos andar. Os pivetes que roubam celular se escondem entre as pessoas e vão e voltam com os seus furtos”, contou o aposentado Armindo Villea, de 67 anos.
Na tarde de ontem, a calçada do Banco do Brasil na Rua General Roca era ocupada por alguns moradores de rua. Eles afirmavam que não cometem os furtos e roubos registrados na praça. Mostrando as mãos cheias de calos, um homem que disse ser de Minas Gerais, sentado sobre papelões, afirmou que faz biscates e pede esmolas. “Para o abrigo de Santa Cruz, eu não vou. Lá é muito cheio. Tem gente até no corredor. Não quero voltar para Minas. Quero ficar aqui na rua. Não sou ladrão”, assegurou o rapaz.
Um outro senhor, que estava deitado com duas mulheres próximo a um monte de cadeiras e um carrinho de supermercado vazio, garantiu ser morador do Morro do Salgueiro, vizinho à praça. Ele diz que trabalha com reciclagem e que não rouba. “Passo o dia na rua, mas, de noite, vou para minha casa, no Salgueiro. Aqui tem gente de tudo quanto é lugar”, contou.
É grande a presença de ambulantes nas redondezas da praça. Oferecem desde comidas, óculos, roupas e brinquedos até piscinas de plástico para crianças. Alguns temem o enfrentamento com os agentes do Segurança Presente. “Trabalhava como balconista de farmácia, estou desempregada há dois anos. Hoje, eu e meu marido vendemos espanador na praça para sustentar nossa família”, contou uma camelô.
Abordagens filmadas
De acordo com a assessoria do governo estadual, as novas operações seguirão o modelo das já implantadas no Aterro, Lagoa, Leblon, Méier, Centro e Lapa, com patrulhamento realizado a pé, em bicicletas, motos e viaturas. Tanto as operações do Tijuca Presente quanto as do Ipanema Presente contarão com cerca de 50 agentes diariamente, incluindo policiais militares da ativa, da reserva e agentes civis egressos das Forças Armadas. O policiamento será feito por duplas de policiais, acompanhados de um agente civil que filmará as abordagens. O horário de funcionamento das operações será das 8h às 20h. Assistentes sociais também farão acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade social. O lançamento do programa em Ipanema e na Tijuca contará com a presença do governador Wilson Witzel e do secretário de Governo, Gutemberg de Paula Fonseca.
Emendas ao orçamento
O deputado estadual Luiz Paulo destinou emendas no valor de R$ 25,125 milhões do Orçamento de 2019 para o Fundo do Estado de Investimentos e Ações de Segurança Pública e Desenvolvimento Social (Fised), programa Governo Presente. Atualmente, o programa é executado com recursos do governo do estado.
