Braga Netto e Richard Nunes criticam abertamente decisão de Witzel de extinguir a Secretaria de Segurança

Por Clóvis Saint-Clair

Braga Netto abre fórum de debates sobre a intervenção militar no Rio, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca: general está preocupado

As autoridades da intervenção federal começaram, ontem, a dar sinais públicos de seu descontentamento com a intenção do governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), de extinguir a Secretaria de Estado de Segurança do Rio (Seseg). Durante o fórum do Observatório Militar da Praia Vermelha, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca, na Zona Sul, o interventor federal, general Walter Braga Netto, e o secretário de Segurança, general Richard Nunes, disseram que o plano de transição para a área de segurança estava contando com a continuidade do organograma da área. “Todo o planejamento foi feito em cima disso, e todo o legado foi pensado nessa estrutura. Essa é a grande preocupação que nós temos com a transição: como vai se adaptar o legado que nós vamos deixar com a nova estrutura que está sendo difundida na imprensa”, disse Braga Netto, em palestra de abertura do evento.

Ao responder perguntas de jornalistas, o secretário estadual de Segurança, Richard Nunes, disse que a separação das polícias em duas secretarias pode gerar dificuldade administrativa e de integração das inteligências da Polícia Civil e da Polícia Militar: “[O fim da Secretaria de Segurança] impacta bastante e nos preocupa muito. Em nosso entendimento, se ela fosse desnecessária, nós teríamos feito isso [extinguido]. Nos preocupa bastante como vai ser a transição sem uma secretaria que possa integrar as polícias e seguir esse processo”.

A diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública, Joana Monteiro, dirigente do órgão diretamente vinculado à secretaria, considerou ser importante que o instituto mantenha o acesso aos dados das duas polícias. Em nota, a assessoria de imprensa do governador eleito afirmou que Witzel considera as recomendações e sugestões bem-vindas, agradeceu o trabalho realizado pela intervenção e prometeu que seu governo aproveitará o legado deixado.

No dia 1º passado, o JORNAL DO BRASIL informou que a decisão de Witzel pode impossibilitar a continuidade das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e provocar uma saída abrupta das forças de segurança do Rio. Braga Netto e Richard Nunes ainda não externaram publicamente essa possibilidade, mas já disseram nos bastidores que, caso a medida anunciada por Witzel se confirme, não haverá mais interlocução possível com as instâncias federais e com o Exército. Braga Netto e Nunes já teriam deixado claro que não fariam mais nenhuma operação de GLO, se não houver um órgão formalmente constituído que coordene as duas polícias no estado, porque não pretendem “ficar falando” com a Polícia Civil e com a Polícia Militar.

No Palácio Guanabara, a saída dos militares, no caso de extinção da pasta, é dada como certa, porque Braga Netto e Richard Nunes estão prestes a ocupar cargos ainda mais importantes dentro da hierarquia militar: o primeiro deve assumir o comando do Estado Maior do Exército após o fim da intervenção; o segundo, provavelmente será o futuro chefe de gabinete do ministro do Exército, general Edson Leal Pujol.

O fim da intervenção federal não representaria, por si só, o encerramento da participação das Forças Armadas na segurança pública fluminense, porque Wilson Witzel poderá solicitar reforço nas ações por meio do decreto da GLO — pelo documento, as Forças ficam à disposição do governador, mas o gestor, por sua vez, deve coordenar as ações do Comando Conjunto (que inclui as polícias Civil e Militar) com o Comando Militar do Leste. Na prática, com a extinção da Secretaria de Segurança, Witzel extingue, também, a figura desse gestor, hoje representada pelo secretário de Segurança.

Com Agência Brasil