Aqueduto deságua no desleixo
Iphan irá à Justiça contra Secretaria de Saúde, responsável pelo bem na Colônia Juliano Moreira
Tombado em 1938 em nível nacional, um canal suspenso de abastecimento de água localizado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, periga ser destruído pela falta de conservação. O Aqueduto dos Psicopatas, como é conhecido, já estava deteriorado quando o O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) exigiu que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), responsável pela estrutura, o recuperasse, após uma vistoria em 2016. Nada foi feito. O Iphan então multou a secretaria em R$ 100 mil há mais de um ano. A pasta pagou a multa, mas o Iphan foi surpreendido na semana passada quando soube que o aqueduto ficou à míngua. Suas paredes já mostram tijolos aparentes e nele há casas encostadas. Agora, o Iphan vai se entender com a SMS na Justiça. “Houve autuação e pagamento de multa. Considerando que ainda assim não houve reversão do dano, repassamos o caso para a nossa Procuradoria Federal, que tomará as providências legais cabíveis”, diz a Superintendência Regional do Iphan no Rio, por intermédio de sua assessoria de imprensa.
O aqueduto, na descrição do Iphan, data do fim do século 18, “composto de uma série de arcos simples e que conduzia água a um dos antigos engenhos de Jacarepaguá”. Em artigo sobre o tema, a arquiteta Inês El-Jaick Andrade descreve o sítio onde se encontra o aqueduto: “É originário de um dos mais antigos engenhos de açúcar e fubá de Jacarepaguá, o Engenho Nossa Senhora dos Remédios. A partir de 1789, esse engenho passou a ser conhecido como Engenho Novo de Curicica, Pavuna ou Jacarepaguá, quando assumiu o controle das terras a família Teles Barreto de Meneses”.
Para o arquiteto Carlos Fernando Andrade, ex-superintendente do Iphan no Rio, o aqueduto é “importantíssimo, porque os engenhos, suas moendas, dependiam da força hidráulica para funcionar, e era a água desse aqueduto que movimentava aquele engenho, numa época em que a cultura de cana de açúcar era fundamental à economia do Rio de Janeiro no contexto do império ultramarino português”, diz o arquiteto. “Há que se ressaltar que o aqueduto da Lapa foi construído para abastecer a cidade, enquanto o da Colônia, para fazer o engenho operar. Ambos são do século 18”, conta Andrade.
Em nota, a assessoria de imprensa da SMS reconhece que o equipamento está mesmo sem a preservação necessária: “A Superintendência de Saúde Mental esclarece que busca recursos para investimento na restauração do Núcleo Histórico da área onde funciona o Instituto Municipal Juliano Moreira, onde também está localizado o antigo aqueduto. A Gerência de Engenharia de Arquitetura da SMS informa também que já apresentou projeto de restauração do aqueduto, que foi negado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A gerência trabalha em novo projeto que será submetido ao órgão”.
O núcleo histórico ao qual se refere a nota da SMS se chama Rodrigues Caldas (homenagem a um psiquiatra que trabalhou na Colônia nos anos 1920). O núcleo tem edificações mais recentes do que o aqueduto. “A sede da fazenda e a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios foram construídas no século 19. A igreja foi construída em 1862, por Dona Maria Teles Cosme dos Reis, filha de Catarina e Pascoal, sobre as fundações da antiga capela do século 17”, diz a arquiteta no artigo.
Inês El-Jaick Andrade dá, enfim, a dimensão do conjunto, quando descreve que o sítio também “abriga fragmentos históricos de outros momentos significativos, como o do funcionamento da antiga Colônia Juliano Moreira”. Ela afirma que “o núcleo histórico foi inaugurado em 1924, como o primeiro conjunto do pavilhão da colônia agrícola para asilar alienados em Jacarepaguá”. O conjunto de construções ali é também tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Na nota da SMS, há a promessa de que os recursos a serem obtidos servirão para todo o núcleo histórico. A história da fazenda, de seu engenho e da psiquiatria agradece.