Aprovada no Senado, PEC da Transição encontra resistência na Câmara

Votação depende também do desfecho do julgamento do orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF). Parlamentares do PT argumentam que não foi o partido que provocou a Corte sobre o esquema - a ação foi da Rede -, mas o Centrão vê a 'digital' de Lula no julgamento

Por POLÍTICA JB com Agência Estado

[Rodrigo Pacheco, presidente do Senado] Interferência no Regimento Interno do STF

Iander Porcella, Débora Álvares e Bruno Luiz - O Senado aprovou nesta quarta (7) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da transição em segundo turno no plenário. Foram 64 votos favoráveis e 13 contrários. Na primeira votação, 64 senadores apoiaram o texto e 16 rejeitaram. A PEC eleva em R$ 145 bilhões o teto de gastos - regra que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação - pelo período de dois anos, em 2023 e 2024. O texto também retira do teto um porcentual de receitas extraordinárias que pode chegar a R$ 23 bilhões, o que eleva o impacto fiscal a R$ 168 bilhões.

A PEC é a principal aposta do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para cumprir promessas de campanha, como a manutenção do Bolsa Família em R$ 600 e a concessão de uma parcela adicional de R$ 150 por cada criança de até seis anos. Além disso, Lula quer garantir o aumento real do salário mínimo e recompor verbas no Orçamento do ano que vem para programas como o Minha Casa, Minha Vida, o Farmácia Popular e a merenda escolar.

Ontem, a PEC só passou na CCJ após o senador Jaques Wagner (PT-BA) anunciar, em nome de Lula, um acordo para reduzir a ampliação do teto de gastos de R$ 175 bilhões, como estava previsto no parecer inicial do relator, Alexandre Silveira (PSD-MG), para R$ 145 bilhões. Além disso, o PT se comprometeu a enviar ao Congresso até agosto um projeto de lei complementar para mudar a regra fiscal do País, com o fim do teto.

No plenário, senadores como Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) tentaram reduzir a validade da ampliação do teto, de dois anos para um ano, e fixar o valor da elevação no limite da regra fiscal em R$ 100 bilhões. Os aliados de Lula, contudo, conseguiram barrar a investida de opositores ao governo eleito para esvaziar ainda mais a PEC e obtiveram a rejeição dos destaques, após uma operação que envolveu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que integra a equipe da transição.

A expectativa agora é que o texto seja analisado pela Câmara na semana que vem. De acordo com deputados do PT, há acordo com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), para que a proposta seja apensada a outro texto que esteja pronto para ir a plenário. Ou seja, sem passar por comissões. Na Câmara, é necessário o apoio de 308 dos 513 deputados, com votação também em dois turnos. Lira já sinalizou que pode pautar a votação na próxima quarta-feira, 14.

Para assegurar a aprovação da PEC no Senado, Silveira acatou uma série de emendas, entre elas, uma que garante o pagamento do vale-gás a famílias de baixa renda em 2023 sem necessidade de compensação fiscal. Outras retiram uma série de despesas do teto de gastos, como despesas das instituições federais de ensino e da Fundação Oswaldo Cruz custeadas por receitas próprias, de doações ou de convênios celebrados com demais entes da Federação ou entidades privadas.

O texto aprovado também amplia o poder do Congresso sobre a alocação de recursos no Orçamento do ano que vem ao permitir que as comissões permanentes solicitem ao relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), a destinação de recursos que ficarão livres na Lei Orçamentária Anual (LOA). Na versão da proposta protocolada por Castro, essa prerrogativa estava restrita à equipe de transição.

 

Orçamento Secreto

A votação na Câmara depende também do desfecho do julgamento do orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF), adiado para a próxima quarta-feira, 14. Diante do impasse, petistas articulam um novo encontro entre Lula e Lira. Parlamentares do PT argumentam que não foi o partido que provocou a Corte sobre o esquema - a ação foi da Rede -, mas o Centrão vê a "digital" do petista no julgamento.

Em meio ao imbróglio, deputados têm reclamado da falta de interlocução com o governo eleito sobre a PEC e falam em alterar o prazo e valor da ampliação do teto, mas o PT vê o movimento como retaliação. Para o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), o julgamento pode gerar uma crise institucional.

"O pior dos mundos é uma crise institucional gerada a partir de uma suspensão do julgamento em que o Congresso ficará inerte para se posicionar sobre a PEC e até mesmo a formatação do orçamento de 2023. A imagem do País ficaria muito comprometida por causa da expectativa que o governo Lula criou até mesmo internacionalmente", disse o deputado.

Na queda de braço com o STF, uma das alternativas avaliadas pelos deputados é colocar na PEC um dispositivo para prever a constitucionalidade do orçamento secreto. Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também articulam um projeto de resolução do Congresso para garantir o esquema.