No Recife, manifestação contra Bolsonaro tem repressão da PM sem autorização do governador

Oficiais bolsonaristas teriam atuado por conta própria contra críticos do presidente

Por JORNAL DO BRASIL

Governador diz que mandou investigar a atuação clandestina

No Recife, a manifestação pacífica contrária ao governo do presidente Jair Bolsonaro com centenas de pessoas terminou com forte repressão da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), que disparou com balas de borracha e usou spray de pimenta e bombas de efeito moral em manifestantes. Há registros de feridos, mas ainda não foram contabilizados. A ação da PM foi realizada já no final do ato político, entre a avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, e a ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, por volta do meio-dia.

Os manifestantes afirmam que a PM atacou de forma inesperada e sem nenhum motivo aparente. “A gente não estava fazendo nada. Não estava acontecendo nada. A gente só estava atravessando a ponte, em fila, batendo palma, algo muito tranquilo, e eles (a PM) responderam dessa forma, do nada”, relatou a professora Eva Marinho. Ela participava do ato desde o início, às 10 horas da manhã, e não ficou ferida. A PM chegou a usar spray de pimenta contra a vereadora do PT Liana Cirne, também de forma inesperada, e dentro de uma viatura, enquanto ela conversava com agentes.

Na saída da concentração do ato, a polícia, que acompanhou todo o protesto, impediu a saída de carros de som, que eram utilizados pelas lideranças da manifestação para fazer falas políticas e recomendações de segurança da pandemia, como manter a distância de pelo menos um metro entre as pessoas durante o ato. Desde a última segunda-feira, 24, Pernambuco está sob um novo decreto estadual com medidas de restrição para atividades sociais e econômicas. Especialmente neste final de semana e no seguinte está permitido apenas o funcionamento de serviços essenciais, mas as pessoas não estão proibidas de circular na cidade.

Na última sexta-feira, 28, a 34ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital (PJDCC), Helena Capela, com atribuição na Promoção e Defesa da Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), emitiu um documento recomendando a “não realização de eventos que possam ocasionar aglomeração neste final de semana (...) a exemplo do ato agendado para a data de 29 de maio na Praça do Derby”. A recomendação utilizou o decreto assinado pelo governador Paulo Câmara (PSB) como base. O documento reforça que “o Código Penal brasileiro, nos artigos 267 e 268, tipifica como crime casos em que cidadãos ou organizações apoiem a disseminação de uma epidemia ou mesmo a infração à determinação do poder público que venha impedir a disseminação de doença contagiosa”.

Investigação

Paulo Câmara se manifestou na tarde deste sábado, por meio de vídeo publicado em rede social e disse que determinou abertura a apuração de responsabilidade dos episódios de violência. "A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos", afirmou o governador, que disse ainda que o comandante da operação e envolvidos na agressão à vereadora ficarão afastados enquanto durar a investigação.

A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), em vídeo publicado em rede social, afirmou que a ação da PM não foi autorizada pelo governo do Estado. "Nós estamos ao lado da democracia. Os atos de violência, que repudiamos desde já, estão sendo apurados e terão consequências", diz a publicação, que termina com a hashtag #ForaBolsonaro.

Prefeito do Recife, João Campos (PSB) também afirmou, por meio de rede social, que "não pode haver espaço para cenas como as que assistimos hoje" e defendeu investigação sobre o caso.

Na democracia não pode haver espaço para cenas como as que assistimos hoje. É preciso abrir investigação sobre o que ocorreu e punir o uso da violência. Reforço a minha solidariedade a quem foi agredido nos atos deste sábado. — João Campos (@JoaoCampos) May 29, 2021

De acordo com a equipe de comunicação da vereadora Liana Cirne, ela não estava participando do ato, mas foi até lá para prestar assessoria jurídica após receber denúncias de violência policial. Ela tentava explicar a agentes da PM que a manifestação era pacífica, que estava se encerrando e que, por tanto, não seria necessário o uso da força, quando foi atacada de dentro de uma viatura. Liana recebeu os primeiros atendimentos médicos e passa bem, mas vai ter que fazer um tratamento nos olhos pelos próximos dias em função da gravidade dos ferimentos. Ela vai prestar uma queixa sobre o caso.

A assessoria de imprensa da PM informou que está apurando os fatos, em relação à vereadora e ao uso da força contra os manifestantes sem motivo aparente.(com Agência Estado)

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