"Cura gay": público LGBT reage à decisão de juiz e ironiza consequências da medida

"Se todos os gays pedissem aposentadoria por 'doença', aí sim a Previdência ia à falência"

Por REBECA LETIERI

A decisão da Justiça Federal de conceder liminar que autoriza psicólogos a atenderem pacientes com terapia para "reversão sexual" causou polêmica nas redes sociais nesta terça-feira (19). Diversos especialistas, militantes LGBT, entidades e artistas usaram suas contas para protestar contra a medida, que é proibida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) desde 1999.

As hastags #curagay e #TrateSeuPreconceito lideraram Trending Topics do Twitter ao longo do dia. Entre os protestos, diversas publicações fizeram piada com uma possível licença médica para “tratar da doença” sugerida pela liminar em decisão proferida na última sexta-feira (15) pelo juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho. 

“Eu quero aposentadoria, porque é doença crônica, não tem cura”, riu a ativista trans e assessora do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), Alessandra Makkeda, acrescentando: “Se todas as pessoas LGBTs do país, que são calculadas entre 10% a 17% da população brasileira, fossem doentes, o Rio de Janeiro e o Brasil iriam à falência, o impacto seria absurdo”, exclamou. “Se a Previdência não está em falência, dessa forma ela estaria”, concluiu. 

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Na ocasião, o projeto já tinha sido aprovado na Comissão de Direitos Humanos da Casa durante a gestão do polêmico Pastor Marco Feliciano, mas como foi retirado da tramitação, só poderia ser reapresentado na legislatura seguinte, ou seja, hoje pode ser proposto novamente por qualquer parlamentar.

“Esses grupos nunca pararam de disputar esse absurdo. Como em 2013, a resolução não foi suspensa, porque não há argumento jurídico e técnico para a suspensão, agora outro caminho foi usado”, afirmou Maria.

O ato marcado para a próxima sexta reúne diversos coletivos LGBTs, e para Alessandra, essa união “incomum” vem fazer frente a decisão do juiz de forma simbólica para mostrar que o movimento é suprapartidário “e não aceita retrocessos”. 

“Tem muito tempo que não surgia um tema que mexesse com tantos setores ao mesmo tempo. Grupos que não conversavam entre si e que hoje estão se mobilizando para estarem juntos nesse ato”, disse a ativista, completando: “Do ponto de vista simbólico, quando uma liminar dessa abre um precedente tão perigoso de que pode haver uma interpretação de uma resolução tão clara, é o mesmo que dar o aval para continuar fazendo esse trabalho canalha, que já acontece, ainda que de maneira tímida. Não se pode abrir esse precedente”. 

*com Agência Ansa