Menção a ministros do STF em gravação foi decisiva para prisão de Delcídio

Por Eduardo Miranda

Às seis horas da manhã desta quarta-feira (25), o telefone de uma das secretarias da Presidência do Senado tocou insistentemente. Na ponta da linha, o esbaforido Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, procurava um contato urgente com o presidente da instituição, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Quando finalmente conseguiu o contato, por volta das 6h15, Janot comunicou a Renan a decisão do STF de prender o líder do governo, Delcídio do Amaral (PT-MS).

“Ele me relatou que o senador Delcídio fez algo muito grave e que estava interferindo para prejudicar as investigações e que também foi decretada a prisão do advogado dele e do André Esteves (banqueiro do BTG)”, contou Renan a um aliado.

Imediatamente, o presidente do Senado disparou ligações  para aliados e para a presidente Dilma Rousseff,  que até a ligação de Renan não estava informada da prisão que acabara de ser efetuada pela Polícia Federal no mesmo hotel onde, nesta terça-feira (24), foi preso o empresário e amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai.

O presidente do Senado convocou sua tropa de choque e formou um mini comitê de crise na residência oficial com a presença dos senadores Romero Jucá, o ministro Eduardo Braga, o ex-presidente José Sarney e o líder do PMDB, Eunício Oliveira.

A primeira providência do grupo foi emitir uma nota oficial descolorida de qualquer juízo e discutir o mérito da prisão do senador Delcídio. O grupo também  avaliou que, pelo ineditismo, a situação exigiria uma reunião emergencial de líderes e da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

Em seguida, o Presidente do Congresso despachou um assessor para buscar na Procuradoria um pen-drive com o áudio e a transcrição das gravações que levaram o líder do governo para a prisão. Segundo uma das pessoas que teve acesso à gravação, além de propor a fuga, R$ 4 milhões e uma mesada de R$ 50 mil na Espanha ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Delcídio menciona o nome de quatro ministros do Supremo, que não foram revelados. Esta menção foi decisiva para decretar a prisão.

“É uma escuta ambiental. Eles estão preparando um carnaval. Isso não é causa para prisão”, desabafou o presidente do Congresso para o grupo de aliados.

O Supremo Tribunal Federal tem um prazo de 24 horas para enviar a íntegra dos votos ao Senado Federal. O Senado, pela maioria de seus membros, decidirá sobre a prisão.