Derrota em votação dos vetos mostra que governo terá que se esforçar ainda mais

Apesar da reforma ministerial, metade da bancada do PMDB não compareceu

Por Eduardo Miranda

Nem mesmo a reforma ministerial, que ampliou o número de pastas para o PMDB, ou mesmo a mudança na articulação política do Planalto com sua base aliada conseguiram evitar a derrota do governo na tentativa de se apreciar os vetos presidenciais em sessão conjunta do Congresso nesta terça-feira (6).

Desde a semana passada, líderes do governo vinham demonstrando plena confiança de que todos os vetos seriam mantidos e a sessão não seria novamente adiada. Apesar de não admitir que a reforma ministerial - bastante benéfica ao PMDB - tinha relação com a expectativa da votação dos vetos, o governo apostou todas as suas fichas nesta terça-feira que seria o Dia D.

Apesar de todos os esforços, quase metade da bancada de deputados do PMDB simplesmente não compareceu à sessão (dos 66 parlamentares, apenas 34 estavam presentes). O PSD do ministro Gilberto Kassab também deu demonstração da falta de lealdade ao governo: apenas 10 dos 37 deputados estavam presentes. Outro partido da base, o PDT, que recentemente assumiu o Ministério das Comunicações, tinha no plenário quatro dos seus 19 deputados. Com 36 e 34 representantes na Câmara, PP e PR levaram apenas nove e seis deputados, respectivamente.

>>Sessão do Congresso para votar vetos de Dilma é adiada mais uma vez

Mesmo assim representantes do governo não quiseram admitir a frustração. O discurso foi o de reconhecer como único erro a data e o horário da votação (11h30). Líder na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) garantiu, assim como fizera em relação à sessão de hoje, que "o governo o colocará quórum amanhã (quarta-feira, 7)".

"A sessão está marcada para amanhã e o governo colocará o quórum para encerrar essa contenda. Não foi derrota de ninguém porque muitos parlamentares não estavam sequer na Casa, muita gente chegou a partir das 15h. Não me venham com essa história de derrota", reclamou, em coletiva, diante da insistência dos jornalistas em buscar um diagnóstico.

O Jornal do Brasil conversou com dois deputados petistas e o discurso variou pouco. Wadih Damous (PT-RJ) chegou a cogitar que a movimentação pelo esvaziamento poderia ser atribuída a lideranças, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas preferiu creditar o cancelamento da sessão à falta de quórum. "Tenho a impressão de que os deputados é que não deram quórum. Os senadores compareceram", constatou.

Já o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que disputou com Cunha a presidência da Câmara em janeiro, apontou duas hipóteses. "A explicação usual é que é terça-feira e, se não houver um trabalho de mobilização para uma sessão às 11h30, o risco de ausência é grande. Mas como estava tudo marcado desde a semana passada, há duas hipóteses: ou não houve trabalho de mobilização ou houve e ele não foi suficiente. Pode ser que a base ainda não esteja organizada. É preciso um tempo de hoje para amanhã para tentar identificar. Mas não é razoável tanta ausência", analisou Chinaglia.

Analista de riscos e professor de ciência política licenciado da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Kramer ironizou o resultado: "Isso porque Dilma deu aqueles ministérios todos ao PMDB". Para o professor, demonstra inabilidade política para penetrar o que ele chamou de "baixo clero" do Congresso.

"O governo costuma não ter problema com o Senado, que é formado por políticos mais experientes, ex-governadores. Mas com o baixo clero, ou seja a maioria dos deputados, é diferente. O baixo clero está sempre marginalizado na distribuição de pastas ministeriais e depende de um patrono para a aprovação de emendas de orçamento a fim de se reelegerem. Essa patrono atualmente é Eduardo Cunha. O presidente da Câmara continua articulando nos bastidores e, mais uma vez, mandou recado forte para o governo mostrando a precaridade da articulação política do Planalto, mesmo com a distribuição de cargos na reforma", argumentou Kramer.