Sepúlveda Pertence foi o advogado que conseguiu manter Biggs no Brasil

Por

O então carpinteiro inglês, Ronaldo Arthur Biggs e seus comparsas precisaram apenas de 28 minutos para assaltar o trem postal que levava 2,6 milhões de libras esterlinas, em Cheddington, na Inglaterra, no dia 8 de agosto de 1963. Biggs ficou conhecido mundialmente como o ladrão do século, apesar de ser um componente de segunda linha da quadrilha. Um mês depois “Assalto ao Trem Pagador”, como ficou conhecido o caso, foi preso e logo condenado a 30 anos de prisão.

Biggs conseguiu fugir da penitenciária em 8 de julho de 1965 depois de corromper um guarda. Escalou o muro com uma escada feita de cordas e foi para Paris, onde conseguiu um passaporte falso e fez cirurgia plástica para mudar seus traços. Em 1970, rumou para a Austrália. Precisou fugir novamente após ser reconhecido por um repórter. Chegou ao Brasil no mesmo ano, onde passou mais de três décadas e enfrentou algumas batalhas judiciais.

Em 1974, quatro anos após chegar ao Brasil, Biggs foi encontrado por um repórter do jornal Daily Express. Ele estava morando no Rio de Janeiro. A Scotland Yard, polícia britânica, foi logo avisada de seu paradeiro. Ele chegou a ser detido, mas nada seria feito. Na ocasião, Biggs não podia ser extraditado, já que Brasil e Inglaterra não tinham tratado de extradição à época.  

Em 1981, o ladrão do século foi seqüestrado por um grupo e levado para Barbados (Caribe). O grupo queria recompensa da Inglaterra para entregá-lo. Ele chegou a ser detido em Barbados com a alegação de violação das leis de Imigração. Como foi vítima de um crime e não estava lá de forma livre e voluntária, teve o direito de retornar ao Brasil e não à Inglaterra. Os seus advogados conseguiram que a Justiça local o devolvesse ao Brasil.

O advogado Sepúlveda Pertence, que anos mais tarde seria ministro do Supremo Tribunal Federal, defendeu Biggs. Ele foi contratado para evitar a deportação. Na época, o principal argumento foi o de que uma dançarina estava grávida de Biggs. Ele teve um filho no Brasil — Michael Biggs, que também ficou conhecido como Mike, da Turma do Balão Mágico, grupo infantil que fez sucesso nos anos 80.

A Inglaterra voltou a ter esperança em tê-lo de volta depois de assinar um tratado de extradição com o Brasil. Em 1997, no entanto, o Supremo Tribunal Federal arquivou por unanimidade o pedido de extradição feito pelo governo britânico. Na ocasião, como era presidente da Corte, o ministro Celso de Mello não se manifestou no julgamento. O ministro Sepúlveda Pertence também não votou porque tinha sido advogado de Biggs nos anos 70.