SP: um ano depois, escola onde aluno se matou quer esquecer tragédia 

Por André Gomes

Há um ano, por volta das 15h50, uma escola municipal de São Caetano do Sul se transformaria. Naquela quinta-feira, o aluno do 4º ano Davi Mota Nogueira, 10 anos, fez um disparo contra a professora de português Rosileide Queiros de Oliveira, 38 anos, dentro da sala de aula. Depois, o menino foi até a escada do colégio e atirou contra a própria cabeça. A professora sobreviveu ao tiro, David morreu uma hora depois.

A diretora da escola Alcina Dantas Feijão, Marcia Gallo, disse que jamais irá esquecer o fato, mas o colégio procura seguir a rotina apesar do trauma. "Falamos o menos possível para as crianças. Fizemos uma lembrança no dia em que voltaram às aulas, mas depois seguimos a vida". 

De acordo com a diretora, o irmão de Davi continua na escola sem nenhum problema. "Nunca aconteceu nada com o irmão dele. Não mudou de comportamento e não mudaram as notas", afirmou.

A arma usada, um revólver calibre 38, era do pai, o guarda civil metropolitano, Milton Evangelista Nogueira. Ela estava regularizada e Nogueira a usava quando fazia bicos de segurança em uma lanchonete. Segundo as investigações, o revólver ficava sempre descarregado em cima de um armário e os filhos eram alertados sobre os perigos que o objeto representava. Porém, naquele dia, segundo o inquérito, o guarda não tinha tirado as balas da arma, pois estava com pressa e o menino conseguiu pegá-la.

Investigação

O processo foi arquivado dois meses depois da tragédia. A morte do menino extingue a possibilidade de punição. O pai não foi indiciado por omissão - deixar a arma ao alcance do filho - e recebeu o perdão judicial, dado a quem já teve um sofrimento maior do que qualquer tipo de pena aplicável pelo sistema judicial.

A delegada responsável pelo caso, Lucy Mastellini Fernandes, destacou a peculiaridade do desdobramentos, que considera "inédito". "Não conheço que tenha havido qualquer ocorrência parecida, um menino tirando a própria vida", afirmou.

Menino tranquilo

De acordo com os professores, David era uma criança tranquila, sem problemas de indisciplina e nem indícios de ser vítima de bullying. Duas professoras que conversaram com o Terra no dia do enterro, disseram jamais ter havido qualquer notícia de participação do aluno em situações problemáticas. "Quando soube pensei em qualquer um, menos nele", afirmou uma delas.

O túmulo de Davi, no cemitério das Lágrimas - poucas quadras distante da escola Alcina Dantas Feijão - aparenta não receber visitas nos últimos dias. No local, ainda há um bicho de pelúcia com o distintivo do Santos Futebol Clube, time de coração do garoto, entre outras lembranças.

"Ele era um aluno regular, tirava notas de 6 a 10 e não há histórico de reclamações de pais. Além disso, dava-se bem com os colegas e não há nenhum registro de atrito com a professora", afirmou a diretora.

A família de Davi preferiu não falar. A porteira do conjunto residencial onde eles moram, a cerca de 700 m da escola onde o menino estudava, informou que a família segue uma vida normal, na medida do possível. "Está tudo tranquilo por aqui", disse a mulher que não quis se identificar e nem esticar muito a conversa. O pai de Davi continua atuando como guarda civil metropolitano de São Caetano do Sul.