Amigos se despedem de Moacyr Scliar; RS decreta luto de 3 dias

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O governador do Rio Grande do Sul anunciou, ao comparecer ao velório de Moacyr Scliar, na Assembleia Legislativa do Estado, que decretou luto oficial de três dias pela morte do escritor. "Scliar foi um grande escritor, um grande brasileiro e um grande gaúcho, um judeu universal", afirmou Tarso, que classificou o literato porto-alegrense como "um ser humano extraordinário".

O governador afirmou que Moacyr Scliar era "generoso" com os escritores estreantes. "Ele gostava do outro, gostava do ser humano", elogiou. Além do luto oficial, Tarso e o secretário estadual da Cultura, o escritor Luiz Antonio Assis Brasil, anunciaram que um concurso literário que será lançado neste ano pelo governo do Rio Grande do Sul receberá o nome de "Prêmio Moacyr Scliar" e que outras homenagens serão preparadas. Por sua vez, o secretário da Cultura de Porto Alegre, Sergius Gonzaga, disse que o prefeito José Fortunati determinou que a edição deste ano da Semana de Porto Alegre (programação anual para comemorar o aniversário do município) será dedicada ao escritor.

Generoso
O governador não foi o único a ressaltar a generosidade como marca da personalidade de Moacyr Scliar. É um sentimento dominante entre os amigos e colegas do escrito, observado nas declarações de personalidade das letras e da cultura sul-rio-grandense que compareceram ao local para se despedir do autor.

Sérgio Faraco, escritor da mesma geração literária de Scliar, disse que o amigo, além de um bom escritor de romances, contos, ensaios e crônicas, "foi um ser humano extremamente generoso". A opinião é compartilhada pelo secretário de Cultura da capital gaúcha. "Como pessoa, era muito generoso, abria caminhos, principalmente para os escritores jovens", diz Sergius. "Abro livros de vários autores estreantes e vejo que o prefácio é dele", corrobora Faraco.

Com a reunião de diversos escritores e intelectuais para a despedida, como os escritores Luis Fernando Verissimo e Fabricio Carpinejar, o ator Zé Vitor Castiel, entre outros, a obra de Scliar foi tema natural das conversas durante o velório. "A obra dele é única, consegue articular muito bem as questões da condição judaica com a realidade brasileira", analisa Assis Brasil. "Há escritores que se preocupam com a questão judaica, como Woody Allen e Phillip Roth, mas com um viés existencial, o Moacyr Scliar contemplava a questão cultural e social", completa.

Para Zé Vitor Castiel, o escritor era "um cara preocupado com as coisas da sua gente". O ator refere-se aos imigrantes judeus que vieram para o Brasil em meados do século 20. "Retratando o bom fim, conseguiu retratar as vicissitudes da imigração judaica", diz o ator.

Reconhecimento internacional
Sergius Gonzaga ressalta que Scliar é um dos poucos escritores brasileiros de peso internacional. "Encontra-se seus livros em qualquer livraria do mundo, traduzido para os idiomas mais importantes", afirma. "Ele criou no Brasil um tipo de conto muito próximo ao de Kafka (o escritor tcheco Franz Kafka), uma narrativa realista mas permeada por doses de fantástico", compara. "Seus contos vão perdurar. Creio que ele se encontra no cenário da literatura brasileira ao lado de autores como Rubem Fonseca e Dalton Trevisan".

Biografia
Médico e escritor, Scliar morreu por volta da 1h deste domingo, por falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino. A cirurgia foi bem sucedida, mas o escritor acabou tendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e morreu nesta madrugada. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2003, Scliar recebeu diversos prêmios lierários ao longo de seus quase 50 anos de carreira, entre eles três prêmio Jabuti, a mais tradicional distinção literária do país: em 2009, pelo romance "Manual da paixão solitária"; em 1993, pelo romance "Sonhos tropicais"; e em 1988, pelo livro de contos "O olho enigmático". Escreveu 74 livros em vários gêneros: romance, conto, ensaio, crônica, ficção infanto-juvenil, além de uma farta produção de textos para a imprensa.

O enterro será realizado nesta segunda-feira, às 11h, no Cemitério União Israelita de Porto Alegre, em cerimônia