Justiça decide liberar suspeitos de fraude de R$ 2 bi
Chico Siqueira, Portal Terra
SÃO PAULO - Decisão da Justiça coloca em liberdade os usineiros presos na Operação Cana Brava, realizada na última quinta-feira pela Polícia Federal (PF) em dez cidades de São Paulo e em Mato Grosso do Sul. Dezessete pessoas estão presas, acusadas de participar de um esquema que desviou mais de R$ 2 bilhões de contribuições previdenciárias não recolhidas de 160 empresas do setor sucroalcooleiro, mas elas devem deixar as prisões nas primeiras horas desta terça, quando vence o prazo da prisão temporária de cinco dias concedida pela Justiça na quinta-feira.
A PF pediu hoje a prorrogação do prazo de prisão por mais cinco dias, mas o juiz Pedro Luís Piedade Novaes, da 1ª Vara de Justiça Federal em Araçatuba (SP), negou o pedido. Novaes alegou não haver elementos que justificassem a necessidade de se manter, por mais cinco dias, os usineiros presos, entre eles, seis pessoas da família Egreja, apontada como líder e mentora do esquema.
Nesta segunda-feira um outro integrante da família, o usineiro Roberto Sodré Egreja, se apresentou à PF. Depois de prestar depoimento, ele foi levado à Cadeia Pública de Penápolis, onde aguarda a liberação junto com os irmãos Celso e Mário Egreja, presos na quinta-feira. Em São Paulo, o ex-deputado federal José Egreja (PTB-SP) continua detido na carceragem da Superintendência da PF, e também ser libertado nesta terça-feira. Rosa Maria Egreja, herdeira da família, foi libertada na sexta-feira, junto com a diretora financeira das empresas da família, Aline Junqueira, depois de colaborar com a PF.
O delegado titular da PF em Araçatuba, Rodney Loureiro dos Santos, disse que a libertação dos presos não implica em prejuízo à investigação, embora a prorrogação tivesse sido pedido para possibilitar uma apuração mais detalhada do esquema. No entanto, os documentos apreendidos pela PF materializariam a existência das fraudes que sustentaram o esquema.
Durante a operação a PF cumpriu 19 mandados de prisão e 46 mandados de apreensão. Foram apreendidos carros importados (dois Porsches e uma Ferrari) e de luxo, armas, dinheiro, farta documentação e computadores. Durante a operação, que contou com 200 homens da PF e 50 da Receita Federal e o uso de um helicóptero, um advogado despejou R$ 40 mil da janela de uma factoring para fugir do flagrante quando viu os agentes chegarem ao prédio.
A factoring era usada para emprestar dinheiro para os Egrejas, que alegavam não possuir patrimônio para quitar uma dívida de R$ 500 milhões da Companhia Açucareira de Penápolis (CAP) para a União. A CAP, que pertence à família, é dona de diversas empresas, entre elas duas usinas de açúcar e álcool usadas para desviar recursos. Os Egrejas ainda contavam com a colaboração de mais de uma centena de empresas do setor, que revendiam produtos processados ou não, sem notas fiscais. Os recursos sonegados eram enviados para duas offshores dos Egrejas no Uruguai e Ilhas Virgens. A PF e a Receita só chegaram aos Egrejas depois de constatar que embora a família alegasse não possuir recursos para pagar o fisco, apresentava sinais externos de riqueza.
