Deputados exóticos brilham no Congresso
Leandro Mazzini, Agência JB
BRASÍLIA - O bordão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca na história deste país pode ser aplicado à 53ª Legislatura na Câmara. Em três meses de trabalho, três deputados calouros ganharam tanto destaque por situações diversas que acabaram deixando a ordem do dia em segundo plano. Não que o espetáculo seja prioridade deles na Casa, mas o trio de artistas acostumados aos palcos conseguiu também chamar a atenção pelos projetos uns bem-vindos, outros curiosos não deixando vez para veteranos.
Clodovil Hernandes (PTC-SP) chegou a Brasília sem promessas de apresentar projetos de lei (PL). Gostou do que viu e já propôs 11. Frank Aguiar (PTB-SP), o cantor apelidado de Cãozinho dos Teclados (aquele do auuuuuu), não deixa por menos. Mandou para as comissões de análise 10 propostas. Outro cantor na Casa, o forrozeiro Edigar Mão Branca (PV-BA) conhecido pelo chapéu de cangaceiro que usa no plenário só apresentou um projeto, que rendeu polêmica.
Frank Aguiar, bacharel em direito, mira suas propostas na educação. Estão em tramitação nas comissões três projetos que, se aprovados, podem mudar o currículo escolar. Um deles, o 392/2007, inclui a cultura popular como disciplina obrigatória na Educação Básica. O 629/2007 autoriza descontos para profissionais do magistério para aquisição de material didático , e o 627/2007 autoriza o Poder Executivo a incluir o ensinamento do Código Nacional de Trânsito na grade curricular das escolas públicas e privadas , do maternal ao Ensino Médio .
Eu ouço muito os meus eleitores, e daí tiro as idéias. Uma vantagem que tenho é ler também todas as mensagens de e-mail que chegam ao gabinete. Respondo a todos eles e, se a idéia é boa, analiso com especialistas e enfim proponho explica Aguiar.
Foi uma dessas idéias que fez o cantor-deputado propor o PL 968/2007, que Institui o dia 13 de março dia da Batalha do Jenipapo, como data histórica no calendário das efemérides nacionais . Trata-se da data da independência nacional no Estado do Piauí .
Se parece estranha esta proposta, basta uma visita ao site da Câmara para descobrir que o único projeto de Mão Branca beira a legislação em causa própria. Em abril, tornou-se o centro das atenções depois de o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), implicar com o seu chapéu. Tentou barrar sua entrada no plenário, em vão. Deputado que é cabra-macho, diz Mão Branca, só tira o chapéu em enterro. Foi autorizado a usá-lo mas, magoado com o episódio, propôs o PL 782/2007, que dispõe sobre o uso facultativo de chapéu em estabelecimentos público e privado .
Tenho esperança de que seja aprovado. É um sofrimento para as pessoas que passam em outros lugares o constrangimento que passei aqui explica Mão Branca.
Engana-se o crítico que julga Edigar estar legislando em causa própria. Para evitar isso, o parlamentar já tem outra idéia de projeto: quer sugerir o Bolsa-Analfabeto.
Pode ser acoplado ao Bolsa-Família. Seria para aquele cidadão que trabalha o dia todo mas não tem como ir para a escola porque chega cansado em casa e vai dormir.
A idéia só não vale para aquelas mulheres que trabalham deitadas e descansam em pé , como classificou o colega de Mão Branca, Clodovil Hernandes. O estilista e apresentador de TV recupera-se de um leve derrame, em São Paulo. Em Brasília, o desafio de Clodovil é provar que não tem nada contra Cida Diogo (PT-RJ), a quem chamou de feia, e causou a maior choradeira da colega no meio de uma sessão.
Apesar de notabilizar-se pelas declarações polêmicas, Clodovil pode se redimir com os eleitores se lançar mão de uma divulgação maior de suas propostas. O PL 989/2007, por exemplo, isenta do pagamento de pedágio em rodovias federais os veículos escolares. Clodovil chegou ao Congresso também negando que seria o legítimo defensor da causa gay. Mas apresentou uma proposta que vai ao encontro dos anseios da classe. No PL 580/2007, que altera a Lei nº 10.406: Duas pessoas do mesmo sexo poderão constituir união homoafetiva por meio de contrato em que disponham sobre suas relações patrimoniais .
Entre o plenário e o palco
Perto da lei e longe dos palcos, a saudade de um forró bate de um jeito que só o fim de semana resolve. Dois deputados trocam os paletós e o ar-condicionado pela roupa artística e o calor dos fãs de sexta-feira a domingo, a fim de aumentar o ganho. Não que o salário parlamentar que chega agora a R$ 16 mil seja insuficiente. Fazem, principalmente, por paixão.
Frank Aguiar (PTB-SP) e Mão Branca (PV-BA) não deixam de se apresentar país afora com suas bandas de forró. Semana passada, o baiano Mão Branca, fã de Jackson do Pandeiro e Dominguinhos, esquentou a sanfona em três cidades da Bahia Lagoa Real, Jaguaquara e Guanambi. Tem bons motivos para sair de Brasília.
Nessa época de festas juninas, cobro de R$ 10 mil a R$ 30 mil o cachê revela o cantor-deputado, que nasceu no distrito baiano de Lodo das Jegas e ganhou o Nordeste.
Frank Aguiar não revela o cachê. Diz que há 10 anos cobra o mesmo valor, mesmo alçado à fama nacional de uns anos para cá. Apresentou-se ontem em Buritama e hoje tem show marcado para Araçariguama, no interior paulista. Semana passada, Frank foi a Manaus, onde tinha um show agendado. Titular da Comissão de Educação e Cultura, aproveitou o dia, no entanto, para trabalhar:
Visitei uns centros culturais para conhecer melhor o folclore desse povo. Faço isso em todas as cidades pelas quais passo.
O deputado apresentou mês passado um projeto de lei que tramita em regime de prioridade, e já chegou à Comissão de Constituição e Justiça, prestes a ir a plenário. Pede a revogação de um parágrafo da Lei 11.300 de 10 de maio de 2006 a da Minirreforma Eleitoral que proíbe, desde o ano passado, a realização de showmícios.
O showmício é o melhor da eleição diz Mão Branca, que ao saber do projeto pelo JB, adiantou que vai reforçar o lobby.
