Três homens em conflito

Por Vagner Gomes de Souza*

A análise de conjuntura não é uma arte da política praticada de forma rotineira. Nos tempos da crise de representatividade poucos são os analistas de política que fazem observações sobre a ação da "virtú" nas incertezas da "fortuna" se convocar Maquiavel. Os limites da realidade impõem fronteiras insuperáveis. Além disso, a expansão do individualismo faz dos debates de conjuntura um evento cada vez mais raro.

Muitos dos leitores desse artigo vão considerar uma ousadia fazer um convite para que a juventude brasileira saia da "bolha virtual" e passe a testar os caminhos da análise de conjuntura. Nesses tempos de intolerância na política, o uso do recurso de um filme de faroeste é uma sugestão metafórica para reaproximar as novas gerações com a arte da análise de conjuntura. Para contribuir na construção desse caminho, a obra cinematográfica do italiano Sérgio Leone (1929 - 1989) atenderia muitas das angústias contemporâneas uma vez que foi um diretor conhecedor dos impactos da expansão do capitalismo no "novo território" americano. O cenário do chamado Velho Oeste americano é a política de jogo "soma zero" (uns ganham tudo e outros perdem tudo) que segmentos do ultraliberalismo desejam empreender.

O roteiro de "bang bang" é uma boa metáfora para imaginar a narrativa dos meios de comunicação sobre a política brasileira. Contudo, há inúmeras possibilidades no qual a escolha racional na política nos seria inspirados por filmes do naipe de Leone. Entre as possíveis escolhas, "O bom, o mal e o feio", que recebeu no Brasil o título de "Três homens em conflito" (filme de 1966), se aproxima de forma brilhante ao perfil da análise de nossas transformações conjunturais. A expansão agrária no século XIX nos Estados Unidos é a base histórica que serve de comparação com o processo de mutação sob pressão de um projeto de implantação do capitalismo agrário em nosso país.

No filme, a polarização da política está presente nas recorrentes cenas relacionadas a Guerra Civil Americana. Tamanho exemplo do quanto as situações de polarização da política abre espaço para a emergência de personagens aventureiros. Agora, os imaginem como sujeitos da política. Assim, sugerimos que nesse cenário justiceiro da para a política brasileira a prática oposicionista do campo democrático encontra-se nas "cidades fantasmas" com um vazio de lideranças e de invenção. Diante desse quadro, as principais movimentações de conflito nesses dias se faz presente no interior do núcleo do Governo Federal.

O pragmatismo político sob o comando do Ministério da Casa Civil em nome dos ritos de "bom" político nos interesses do "baixo clero" do Congresso Nacional. A voracidade ultraliberal das forças do "mal" no Ministro da Economia nos interesses do sistema financeiro. Além disso, os setores liberais desejam encaixar as manifestações políticas do Vice-Presidente como o lado "feio" do peso das forças da tradição. Eis aqui as três vertentes que estão em conflito em um mesmo programa. Todos disputam a condução e predomínio na política enquanto observamos que os índios "peles vermelhas" à esquerda ainda disputam para ver quem será seu novo cacique.

* Mestre em Sociologia e professor de História