Petrobras: onda privatista atropela argumentos técnicos

Por Juçara Braga*

A direção da Petrobras nega, mas fontes internas confirmam que técnicos resistem à venda das ações que a empresa detém na petroquímica Braskem para a companhia holandesa LyondellBasell. Eles consideram um erro estratégico sair da petroquímica quando a visão de futuro aponta na direção inversa, com pesados investimentos sendo feitos nesse segmento por grandes empresas de petróleo, a exemplo da estatal Saudi Aramco, da Arábia Saudita.

Na indústria há consenso de que o uso de derivados de petróleo no setor de transportes tende a diminuir à medida que entram novas tecnologias de mobilidade, com destaque para os veículos elétricos. Já no universo petroquímico, não há substitutos comerciais no radar. Ao contrário, projeta-se demanda crescente. Desinvestir neste caso, portanto, é dirigir na contramão do mercado.

Outro tiro no pé, apontado pelos técnicos da empresa, é o modelo de privatização planejado pelos atuais gestores na área de refino, propondo a venda fatiada do parque industrial, desconsiderando a vantagem competitiva da Petrobras com a operação de forma integrada, como ocorre hoje.

A atual direção da Petrobras apregoa que desinvestimentos otimizam o portfólio e isso, reconhecem os técnicos, de fato ocorre quando há um processo legítimo de redistribuição de investimentos e de foco, o que, segundo eles, não é o caso do processo em curso na estatal.

A venda dos gasodutos da Petrobras na Região Sudeste, em abril do ano passado, é exemplo. A desconfiança do corpo técnico da empresa foi tamanha que o então diretor financeiro Ivan Monteiro, hoje presidente, divulgou mensagem interna tentando, sem sucesso, explicar a operação que ele comparou a um processo de venda de apartamentos para depois alugá-los de volta.

Ou seja, a pretexto de reduzir a dívida, a atual direção da Petrobras trocou a propriedade dos gasosutos pela obrigação de pagar para usá-los, sendo que a operação e seus custos continuam sob responsabilidade da companhia. Com certeza, um péssimo negócio.

Na atual gestão, desinvestir deixou de ser um meio para se tornar um fim sem mensuração de esforços nem consequências, acusam fontes da Petrobras, argumentando que não se deve vender ativos a qualquer preço em momentos desfavoráveis, exceto em situações desesperadoras, o que não é o caso da estatal. A companhia, dizem eles, tem ótima situação de caixa e o endividamento, embora acima do nível planejado historicamente, está sob controle e tem metas de redução previstas no Plano de Negócios.

Com esse programa de desinvestimentos, a atual direção da Petrobras está tomando decisões que afetarão irreversivelmente a configuração e a abrangência de atuação da empresa sem consultar seus donos. Escorados no falso mantra da reconstrução financeira estão, na verdade, dilapidando o patrimônio da maior empresa de petróleo da América Latina, construído em 60 anos de sua história, e reduzindo sua capacidade competitiva num mercado que, em oposição, atua cada vez mais de forma integrada.

* Jornalista