Abastecimento ameaçado: como evitar impactos da onda de calor na América do Sul?

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Por JORNAL DO BRASIL

700 mil pessoas ficaram sem energia elétrica na Argentina, por conta das altas ondas de calor

Os primeiros sintomas do aquecimento já são sentidos e uma onda de calor intensa atinge a região central da América do Sul, podendo fazer com que cidades na Argentina, Uruguai e Paraguai registrem temperaturas recordes, próximas dos 50 °C, o fenômeno também repercute no sul do Brasil, onde os termômetros podem chegar a 40 °C.

Falando sobre a onda de calor intensa que deve chegar nesta semana, Bruno Cesar Capucin, meteorologista da Ampere Consultoria e mestre em recursos hídricos e meio ambiente, afirma que estas altas temperaturas estão sendo sustentadas pelo sistema de alta pressão na atmosfera superior, bloqueado sobre o interior do continente, em áreas do norte da Argentina.

"Esse sistema, além de impedir a formação de nuvens de chuva, também proporciona que a radiação solar atinja com força a superfície terrestre, justamente pelo padrão de ausência de nuvens. Além disso, esse sistema também contribui para que o vento permaneça de norte sobre o interior do continente, forçando as condições de aquecimento", explica.

 

Consequências das altas temperaturas

Para Capucin, as consequências das altas temperaturas podem ser várias, podendo impactar na saúde humana, nos sistemas de transmissão de energia dos países, na fauna e flora.

Com relação à saúde humana, o meteorologista ressalta que o corpo humano pode apresentar consequências de um forte aquecimento manifestado pela insuficiência cardíaca, lesão renal e stress.

O especialista destaca que as ondas de calor estão entre os fenômenos naturais mais perigosos, sendo responsáveis, em alguns casos, por óbitos em massa.

Na atual onda de calor, na Argentina o fenômeno causou a queda de energia, deixando milhares de casas sem eletricidade, devido à alta demanda de energia para resfriar as casas e empresas.

O ecossistema também pode ser atingido pela onda de calor, causando incêndios florestais, mortes de árvores, entre outros danos.

Questionado se a onda de calor poderia provocar mais danos e mortes na América do Sul do que causou na América do Norte, Capucin afirma que isso vai depender de inúmeros fatores, como a preparação dos países.

O especialista também ressalta que em alguns países da América do Norte a população não estava acostumada com as altas temperaturas, como foi o caso do Canadá, onde as pessoas não esperam altas temperaturas até mesmo durante o verão.

 

Fenômeno no Brasil, como se proteger?

A onda de calor já atinge áreas brasileiras desde a semana passada, especialmente áreas do Rio Grande do Sul, no sudoeste do estado.

Contudo, Capucin explica que a aproximação de um sistema frontal no começo da semana reduzirá o forte calor em parte da Argentina e do Uruguai, mantendo as condições ainda mais quentes sobre o sul do Brasil, bem como em outras partes do país, como Santa Catarina, oeste do Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Para se proteger, é preciso que a "população mantenha a hidratação, evite atividades físicas ao ar livre nas horas mais quentes do dia e evite aglomeração".

De acordo com o especialista, estas ondas de calor ou de frio não são eventos anormais e fazem parte da dinâmica do sistema climático terrestre, contudo, há uma consideração relevante que deve ser feita.

Além disso, Capucin ressalta que é importante que os governantes criem políticas públicas para mitigar o impacto destes eventos extremos no futuro, pensando principalmente nos países menos desenvolvidos, que são os mais impactados pelas condições climáticas.

 

Estiagem no Brasil

Explicando a evidente estiagem e seus efeitos no Brasil, Warwick Manfrinato, engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, afirma que o fenômeno ocorre justamente no meio da safra da soja e de alguns outros grãos que foram plantados na região sul do país.

Contudo, o especialista ressalta que a região não é tão significativa, do ponto de vista de uma commodity, para realmente causar um impacto na produção nacional, que atualmente está mais concentrada na região Centro-Oeste, nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, onde a produção de grãos é maior e mais significativa.

Porém, o fenômeno vai prejudicar os produtores do sul do Brasil, bem como criar questões regionais, podendo causar danos e prejuízos.

 

Abastecimento afetado no Brasil?

De acordo com Manfrinato, alguns estados brasileiros, por conta do período de chuvas intensas, precsam de uma declaração de emergência para poder implantar ações e atender a necessidade imediata da população afetada por determinadas ocorrências.

Ele também ressalta que tanto os estados como a federação precisam ter atenção sobre a questão da emergência e principalmente para a questão da emergência climática.

"Nós precisamos ter boas estradas, condições de armazenamento para não perdermos os estoques através da ineficiência de desperdício e transporte no Brasil, que muitas vezes deixa quase que uma safra de perdas pelas estradas, pois as mesmas estão esburacadas [...]", enfatiza.

Falando sobre o que poderia ter sido feito antecipadamente para amenizar os efeitos do calor e da estiagem no sul do Brasil e nos países sul-americanos, Manfrinato afirma ser necessário um melhor planejamento, entendendo que o assunto não é brincadeira, mas que deve ser atendido pelas instituições.

"O problema precisa ser atendido a nível de planejamento e das políticas públicas, ressalta [...] Nós precisamos de uma atitude muito mais agressiva e dirigida".

 

Alternativas para amenizar impacto no agronegócio

Visando aos futuros fenômenos decorrentes da mudança climática, Manfrinato afirma ser importante que na agricultura seja criada uma visão de adaptação.

Além disso, ele diz que certas coisas terão de ser migradas mais ao sul do país, onde as temperaturas não são tão drásticas, ou terão de ser transferidas, alteradas ou adaptadas com inovações tecnológicas da área de genética.

"Essa diversificação precisa fazer parte desse planejamento, ou seja, certas atividades agrícolas tradicionais terão de ser alteradas na sua produção para outras regiões mais adaptadas a essa nova realidade climática", finaliza. (com Felipe Camargo e Luiza Ramos/agência Sputnik Brasil)