Pesquisadora aponta principais pontos para queda de popularidade de Bolsonaro

O Instituto Datafolha divulgou pesquisa revelando que o governo do presidente Jair Bolsonaro tem a aprovação de 24% dos brasileiros, a pior marca de seu mandato até o presente momento

Por JORNAL DO BRASIL

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília

Segundo o instituto, o percentual dos que consideram a gestão ótima ou boa era de 30% em março quando foi feito o levantamento anterior. Os que rejeitam o governo, considerando-o ruim ou péssimo, eram 44% e são 45% na nova pesquisa, realizada nos dias 11 e 12 de maio, com 2.071 pessoas, com entrevistas presenciais realizadas em 146 municípios de todas as regiões do Brasil.

A cientista política Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) diz que segundo a pesquisa, Bolsonaro chegou ao nível mais baixo já atingido nesse período de primeiro mandato, perdendo apenas para o ex-presidente Fernando Collor de Melo.

"Alguns fatores são importantes para entender essa desidratação da popularidade do presidente: primeiramente, o fim dos auxílios emergenciais e a crise econômica que está correlacionada à pandemia. Houve uma explosão do desemprego no trimestre que termina em janeiro, chegando a 14%, mas com certeza esse número vai aumentar muito na próxima medição", explicou a professora, que também é coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada da UFRJ, em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil.

Em segundo lugar, Mayra citou a sensação de fome. Um levantamento indicou que 55% dos domicílios brasileiros convivem com insegurança alimentar, um aumento de 14% em relação a 2018. "Nessa situação, você não prorrogar os auxílios emergenciais de R$ 600 e demorar dois ou três meses para conceder a metade ou menos da metade, de fato deixou essa população completamente desguarnecida e isso drena a popularidade nos segmentos mais baixos economicamente falando".

Para ela, o grupo em que Bolsonaro mantém uma popularidade elevada, ou seja, em que há uma discrepância grande em relação a Luiz Inácio Lula da Silva, é dos empresários: 49% para Bolsonaro e 26% de apoios a Lula.

Um outro elemento importante para a queda da popularidade do presidente é a repercussão da CPI da Covid, que passa a imagem de que a presidência é a responsável pela explosão de mortes ocorridas em 2021 no país.

"Porque já está comprovado que as vacinas foram oferecidas para começarem a ser aplicadas na população em agosto de 2020. Então essas mortes poderiam ser evitadas. Isso faz com que Bolsonaro seja um genocida e a população de segmentos médios, das classes populares, vão se afastando", explicou Mayra.

Eleições de 2022

"Eu não acredito que essa queda vá reduzir o ânimo de Bolsonaro em tentar a reeleição. Muito pelo contrário, eu acho que ele governa com esse objetivo, de se manter no cargo para evitar eventuais condenações que possa sofrer quando perder o mandato e também a possibilidade de proteger seus filhos com o poder que lhe cabe enquanto presidente", declarou a cientista política.

O presidente, segundo Mayra, sempre mantém uma agenda de sinalização a suas bases de apoio e também ao mercado, que é outro grande alicerce de seu governo. "Eu acho que ele vai se movimentar daqui até o fim do mandato para manter o mercado junto dele, fazer a reforma administrativa é um caminho dessa sinalização".

"Lula tem sido capaz de atrair votos do eleitor de centro, isso explica os baixos índices dos outros nomes representantes desse segmento como [Sergio] Moro, Ciro [Gomes], [João] Doria, [Luciano] Hulk, ninguém chega a 10%. Então isso é interessante para gente observar que embora a gente tenha dois candidatos, Lula e Bolsonaro, eles não estão simetricamente posicionados no espectro ideológico", disse a especialista.

Essa drenagem na popularidade de Bolsonaro não é somente entre os eleitores, não só eleitores do centro que estão migrando para o campo do lulismo em termos eleitorais, mas as elites políticas no Congresso já estão fazendo essa migração.

"Por isso eu acredito que Bolsonaro possa sofrer da síndrome do pato manco, que afeta candidatos, líderes em fim de mandado, quando eles vão perdendo poder e seus aliados vão migrando para aqueles que eles entendem ter mais chances de ficar no cargo", continuou Mayra.

Possível consolidação de uma pré-candidatura de Lula

Ela disse que a pré-candidatura de Lula assusta Bolsonaro, e o presidente deve continuar numa escalada de agressividade, como a que está demonstrando em relação à CPI (da Covid), mantendo esse eleitorado muito ideológico cativo, fazendo políticas de nicho, redobrando a aposta no que vem fazendo até agora.

"Mas é claro que ele, conforme for chegando mais perto das eleições, vai dar uma afrouxada no vigor fiscal para que em 2021 haja um ambiente de relativa bonança econômica. Isso é um marcador do que a gente chama de ciclos políticos: em ano pré-eleitoral sempre há uma certa bonança fiscal para que se crie essa percepção de otimismo para parte da população", finalizou a cientista política.(com agência Sputnik Brasil)