Abandonados em meio à pandemia, indígenas da Amazônia clamam por ajuda

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Foto divulgada pela organização Federação Nativa do Rio Madre de Dios (Fenemad) mostra membros das etnias Shipibo e Ese'Ejja usando máscaras faciais feitas de folhas, erguendo os punhos em protesto contra a falta de apoio do governo no enfrentamento ao novo coronavírus

Líderes dos povos indígenas da Amazônia pediram nesta sexta-feira (24) ajuda humanitária internacional diante do abandono e do risco que enfrentam em meio à pandemia do novo coronavírus.

"Não há médicos em nossas comunidades, não existem materiais de proteção para essa pandemia (...) Não há apoio na questão alimentar", denunciou José Gregorio Díaz, da coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica). O grupo reúne os nove países que compartilham a maior floresta tropical do mundo.

Durante uma videoconferência entre a organização e a Anistia Internacional, os representantes indígenas reclamaram da pouca assistência que recebem dos governos da região, apesar do avanço da Covid-19.

Díaz também denunciou que os mineradores e madeireiros ilegais aproveitam o confinamento imposto em vários países da região para agir "com impunidade", colocando as comunidades isoladas em risco de contágio.

"Uma das últimas opções que temos é pedir que a ajuda humanitária internacional seja autorizada a chegar até nossas comunidades... E, assim, seja possível impedir um etnocídio em toda a bacia amazônica", afirmou.

Segundo a Coica, que coordena organizações no Brasil, Colômbia, Peru, Equador, Venezuela, Bolívia, Suriname, Guiana Francesa e Guiana Francesa, não existe um registro de quantas pessoas foram infectadas pelo vírus entre os povos nativos.

Em todo o mundo, pelo menos 190.000 pessoas morreram e quase três milhões foram infectadas pela doença que surgiu na China em dezembro.

Há um mês, a porta-voz da Coica, Claudette Labonte, pediu mais proteção diante da invasão de mineiros, traficantes de drogas, madeireiros, invasores de terras e turistas nos territórios indígenas da Amazônia.

"Os povos indígenas que vivem em isolamento voluntário são especialmente vulneráveis a doenças infecciosas, pois não têm imunidade contra a maioria desses males", disse.

As comunidades nativas são guardiãs cruciais da biodiversidade, um papel reconhecido pelo IPCC, o grupo de especialistas da ONU em mudanças climáticas. Eles protegem uma área florestal que contém uma estimativa de mais de 200 bilhões de toneladas de carbono.

A taxa de desmatamento em terras indígenas é menos da metade da registrada em outras áreas, mas essas comunidades são igualmente ameaçadas por atividades ilegais e grandes projetos agrícolas promovidos pelos governos.

O Brasil, que abriga 60% da floresta amazônica, é o país mais afetado pelo novo coronavírus na América Latina. (AFP)