Olavo de Carvalho pede para sair
Guru da família Bolsonaro orienta seus alunos a deixarem o governo e volta a criticar vice-presidente Mourão
Considerado o "guru" intelectual de Jair Bolsonaro, o filósofo Olavo de Carvalho orientou aos alunos que teve e que ganharam cargos na nova gestão a deixarem o governo. Em publicação nas redes sociais ontem ele diz que a equipe de Bolsonaro está cheia de inimigos do próprio presidente e do povo.
"Jamais gostei da ideia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento", escreveu.
"Mas agora já não posso me calar mais. Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo - umas poucas dezenas, creio eu - deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos", continuou. "O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles."
É atribuída a Olavo de Carvalho a indicação de Ernesto Araújo para ocupar o Ministério das Relações Exteriores no governo de Jair Bolsonaro. Ele teria feito a aproximação entre o diplomata, seu discípulo assumido, e Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente.
Ainda ontem, Olavo de Carvalho aproveitou a atenção de seguidores no Facebook para atacar ministros escolhidos por Bolsonaro, sem especificar nomes. Ele questiona se o voto no candidato do PSL tinha como objetivo eleger um governo do PSDB, sugere que responsáveis pelas pastas estejam agindo neste sentido e, então, os descreve com xingamentos.
"Será que todos votamos no Bolsonaro para ter um governo tucano? Quantos ministros do atual governo pensam que sim? E não são todos eles uns traidores filhos da puta dignos de ser jogados na privada?", disparou Olavo.
O professor tem feito críticas abertas ao vice-presidente Hamilton Mourão. "O maior erro de minha vida de eleitor foi apoiar o General Mourão", escreveu na última terça-feira. "Não cessarei de pedir desculpas por essa burrada". Na quinta-feira, quando questionado sobre as críticas, Mourão respondeu o gesto de um beijo com a mão.
"Não vi o poster do golden shower. Só vi o beijinho do Mourão", rebateu Carvalho.
Em outro episódio, o escritor já se referiu ao general Mourão como "inimigo do presidente e de seus eleitores". A denominação é a mesma que ele usou ontem para classificar integrantes do governo ao pedir a saída dos alunos dos quadros públicos. Em outro momento, Olavo também chamou Mourão de "traidor".
O escritor ficou ofendido porque o vice-presidente, em conversa com o blogueiro Guilherme Amado, da revista 'Época', deu a entender que não lê sua obra. Depois de citar livros que está no momento, quando perguntado se já leu Olavo de Carvalho, a resposta de Mourão foi "um riso de deboche", segundo Amado. As postagens de Olavo de Carvalho contra Mourão começaram assim que ele tomou conhecimento do teor da entrevista do vice-presidente e foram subindo de tom.
Por coincidência ou não, o ministro da Educação promoveu ontem mudanças na pasta, Ricardo Vélez Rodrigues afastou nomes ligados a Olavo de Carvalho. Um deles é Silvio Grimaldo, aluno de Olavo, que trabalhava diretamente com o ministro, no gabinete, e que teria influenciado Vélez em decisões com o viés ideológico. Em seu perfil no Facebook, Grimaldo disse que recebeu uma ligação durante o carnaval informando que ele "seria transferido para a Capes, para enxugar gelo e "fazer guerra cultural"." Grimaldo diz que não aceitou o outro cargo e pediu para ser exonerado. (com Agência Estado)
