No Senado e na Câmara, oposição já articula a formação de blocos

As conversas não incluem políticos do PT

Por KATIA GUIMARÂES

Júlio Delgado, do PSB mineiro, diz que "não será admitido hegemonismo do PT"

Os partidos de oposição ao governo de Jair Bolsonaro no Congresso já começam a articular a formação de blocos para a próxima legislatura que começa no dia 1º de fevereiro, mas assim como na campanha eleitoral a expectativa é que os partidos de centro-esquerda não estejam unidos. A dificuldade em fazer um bloco único de oposição deve-se às críticas ao que parlamentares estão chamando de “hegemonismo do PT”.

Na semana passada, senadores eleitos da Rede, PSB, PDT e PPS deram o primeiro passo para formar um bloco que pode reunir 15 parlamentares e que não deverá contar com petistas. Segundo o senador eleito Wewerton Rocha (PDT-MA), o grupo pretende fazer uma oposição “responsável” e sem “boicote”. “Não queremos fazer oposição do quanto pior melhor”, disse. “Não queremos a polarização nem da extrema direita ou da esquerda”, acrescentou.

O encontro ocorreu na residência do senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que juntamente com o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) irmão do presidenciável Ciro Gomes, está costurando a formação do bloco. Já está marcado para o próximo dia 21 uma nova reunião com todos os senadores eleitos dos três partidos.

Na Câmara, as conversas entre PSB, PDT e PCdoB já estão bem mais avançadas e poderá incluir outros partidos como o PV e PPS. Segundo o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o grupo pode até incluir o PT, mas não será admitido “nenhum tipo de hegemonismo do PT”. “Eles não serão excluídos, mas não são eles que vão tocar [as ações da oposição] da forma que eles querem”, afirmou lembrando que a depender do número de partidos que integrarão o bloco, ele pode ficar maior do que a bancada petista, que elegeu 58 deputados.

A montagem dos blocos no Parlamento tem por objetivo permitir à oposição fazer um enfrentamento maior do ponto de vista político e programático nas votações sobre as matérias do governo. Nas duas Casas, as legendas de oposição têm afirmado que o objetivo é fazer uma oposição “responsável” e admitem que poderão estar junto com o PT e PSOL em algumas ações. A composição de blocos também é utilizada para contar para a distribuição de cargos da mesa diretora da Câmara e Senado e para a escolha do comando das comissões nas duas casas.

Apesar da iniciativa dos oposicionistas, o PT vem conversando com a direção do PSOL, PCdoB, PSB e PDT e diz ser ainda muito cedo para dizer como ficará a oposição em 2019. A maior dificuldade vem sendo encontrada nas conversas com o PDT em função das posições dos irmãos Gomes, que saíram da campanha eleitoral fazendo duras críticas aos petistas. No PT, há o desejo de formação de uma frente maior de oposição no Congresso. Na semana passada, o candidato do PT derrotado nas eleições, Fernando Haddad, anunciou que o partido pretende formar uma frente ampla para enfrentar possíveis retrocessos no campo dos direitos sociais e civis.