Tempo ruim para Alckmin

Ministério Público de SP apresenta denúncia contra o tucano por improbidade administrativa

Por EDLA LULA

Presidenciável do PSDB, Alckmin afirma que não há fato novo na denúncia do MPSP

No momento decisivo de sua campanha, em que mesmo ocupando 44% do horário obrigatório de rádio e TV, ainda patina na preferência dos eleitores, o candidato Geraldo Alckmin tem que dar respostas a uma ação movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por improbidade administrativa à época em que era governador de São Paulo, em 2014.

Na denúncia, ajuizada ontem, o promotor de Justiça Ricardo Manuel Castro pede que Alckmin seja condenado a devolver recursos obtidos indevidamente da construtora Odebrecht, fruto de caixa 2 para financiar a sua campanha à reeleição. Além disso, o MP pede a perda de eventual função pública que o candidato ocupe e a suspensão dos seus direitos políticos. O promotor aponta a doação indevida de R$ 7,8 milhões.


Segundo o MPSP, o então secretário de Planejamento do governo de São Paulo teria se reunido com dirigentes da construtora, onde solicitou, em benefício de Alckmin, uma doação no valor de R$ 10 milhões a serem entregues em esquema fraudulento.

“Ele separava os valores de acordo com as senhas recebidas do Departamento de Operações Estruturadas da Construtora Norberto Odebrecht S/A e aguardava apresentação do portador indicado pelo beneficiário da quantia a ele destinada, que, declinando a senha gerada pelo malsinado programa criado para operacionalizar esse esquema, fazia a retirada, no quarto do hotel, de seu pacote de dinheiro vivo!”, descreve o promotor na ação.

Ele afirma ainda que a intenção da construtora era manter o projeto de concessões e privatizações do Estado de São Paulo, “bem como acobertar diversas fraudes à lei de licitações, tais como formação de cartel e superfaturamento de obras, como se infere de diversas ações de responsabilidade por ato de improbidade administrativa a que responde, merecendo especial destaque, para o contexto da presente demanda, as obras da Linha 6 do Metrô de São Paulo”.

O promotor Castro havia convocado a imprensa para detalhar o pedido de condenação, mas acabou desistindo depois de ver vazada para mensagem sua a colegas, na qual convida a todos a estarem presentes na entrevista coletiva para dar demonstração de união.

A campanha de Alckmin viu nesta mensagem conotação política e desqualificou a ação. Em nota, a assessoria de imprensa informa que a campanha e o candidato tomaram conhecimento do fato pela imprensa. “Não apenas do fato, mas, também, da reprovável manifestação que o promotor pretendia fazer, a um mês das eleições, no anúncio da abertura da ação ‘contando com a presença do maior número de colegas’”, aponta a nota.

“Causa preocupação que o promotor responsável pela peça, conforme noticiado pela imprensa, tenha buscado engajar colegas da instituição em uma espécie de desagravo público. Transformar as ações do Ministério Público em atos políticos não é compatível com o estado de normalidade democrática que vivemos hoje no Brasil”, diz ainda o texto.

Em visita a Goiânia, onde participou de reunião com dirigentes de agências reguladoras, o presidenciável do PSDB minimizou a situação. “Quero reiterar que não há fato novo”, disse aos jornalistas, em referência ao inquérito que já corre no Ministério Público, a partir das delações premiadas dos executivos da empreiteira Arnaldo Cumplido, Carlos Armando Paschoal e Benedicto Júnior, sobre o qual Alckmin havia prestado depoimento no dia 15 de agosto.

“É nosso dever sempre prestar contas. Transparência absoluta. A única coisa que a gente quer é que a Justiça seja rápida e que isso se esclareça rapidamente”, disse ontem o ex-governador.

Geraldo Alckmin não é o único candidato denunciado pelo Ministério Público de São Paulo. O candidato a vice-presidente pelo Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, também é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro, crimes que teriam sido praticados quando era prefeito da capital paulista.