Pag. 4 - Quércia, um trabalhador obstinado

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Homem de negócios, um de seus sócios o repreendia por dedicar tanto tempo à política N ão há homem público sem adversários tenazes. Orestes Quércia os teve, e muitos, dentro e fora de seu partido. E havia razões: ele foi um obstinado empreendedor. Coube-lhe, e disso sabem os que conhecem a história, construir, com as dificuldades conhecidas sob a ditadura, o MDB no interior de São Paulo, viajando de distrito a distrito, organizando os diretórios e os preparando para o memorável pleito de 1974 – em que se elegeu senador. Jornalista e radialista, Quércia foi diligente homem de negócios. Um de seus sócios o repreendia, por dedicar tanto tempo à política; era, em seu juízo, um desperdício de seu talento de grande empresário. Uma coisa é certa: depois que deixou o governo, e não conseguiu mais eleger-se, Orestes Quércia quintuplicou seu patrimônio.

As elites políticas e econômicas de São Paulo não o estimavam. Filho de imigrantes italianos, e homem do interior, não fazia parte dos grandes círculos aristocráticos do grande estado. Tampouco era estimado entre os intelectuais do PMDB, que se recusavam a aceitar sua liderança e, por isso, abriram a dissidência que criou o PSDB. Quércia, pouco antes de se hospitalizar, sentiu o gosto da revanche, com a inscrição de seu nome para a coligação em torno de José Serra, como candidato ao Senado.

Aloizio Nunes Ferreira, que, por sua indicação, fora vice-governador de Fleury, acabou beneficiado pela desistência de Quércia ao Senado. Somou aos seus votos os que seriam destinados ao ex-governador, e obteve, assim, excepcional votação para a Câmara Alta.

Orestes Quércia foi, com suas virtudes de trabalhador, sua dedicação à esposa Alaíde e à família, e seus compromissos republicanos, um homem de seu país, de seu tempo – e de seu povo.

Por Mauro Santayana: maurosantayana@jb.com.br